terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ao Desapego

Eu sou muito achegada às coisas. Eu me aproximo delas e logo elas estão coladas em mim, nas minhas manias e no meu jeito de ser. Eu distribuo afeto, e cola de bastão pro mundo todo ficar bem perto de mim. Pra gente não se desgrudar. Assim. Ao pé-da-letra mesmo. Porque estar perto de alguém é sentir o seu afago aparecendo em meio ao silêncio e à necessidade de estar com os olhos vidrados nos olhos da outra pessoa, pra ela não precisar de mais nada no mundo. Eu gosto dessa aproximação excessiva. Das peles grudadas com o suor das palmas das mãos, com as risadas remexidas dentro do estômago, e até das lágrimas lambendo a face, lavando a alma como dizem por ai. Eu sou muito próxima. Sou claramente apegada às pessoas e às cargas delas, e às alegrias, e às coisas ruins delas misturadas com os sorrisos e às caras amassadas. Eu sou apegada às pessoas e aos objetos pessoais delas, às roupas que eu memorizo, às frases mais ditas, aos segredos que eu posso até não saber. Às cores preferidas, aos nomes. Sou apegada às lembranças que eu guardo numa caixa, nas lembranças que não são guardáveis no armário, às lembranças que ninguém mais sabe. Eu gosto de memórias. Eu sou muitíssimo apegada às datas (...)

Marcella Casari  

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Don't get used

Eu espero não estar preparada caso alguma coisa sai dos conformes. Eu quero que o chão saia dos meus pés, que eu perca a direção ou o sentido e só me conforme um tempo depois. Se isso acontecer. Ao contrário do que dizem, eu não quero estar atenta às mudanças, porque elas vão acontecer, mais cedo ou mais tarde, caso eu já saiba eu espero abraçá-la bem forte. Porque eu não quero evitar estar andando e errar o caminho. Eu quero me surpreender ao estar por ai, virar uma esquina errada, comer um salgado com nome esquisito numa padaria que eu nunca estive e tomar coca na latinha sem canudo, só pra variar. Eu espero variar, trocar os lados dos talheres ao arrumar a mesa, lavar os copos depois os pratos, tomar banho antes de dormir ou então mudar o percurso pra faculdade, trocar o dia pela noite. Eu não quero sempre combinar a cor da blusa com a cor dos sapatos, não quero ter medo de usar brinco dourado e o sapato com detalhes prateados. Quem sabe cumprimentar as pessoas na rua, ser apresentável e experimentar novos sabores, comidas. Eu não espero estar sempre vestindo o mesmo tipo de roupa, nem as mesmas cores organizadas do mesmo jeito dentro da gaveta. Eu espero por uma escova de dente laranja, que as pessoas acertem como escreve meu nome e que eu possa beber suco de caju numa festa qualquer dessas. Eu quero explicar como eu sou e não esperar que as pessoas adivinhem, porque elas não vão adivinhar que eu prefiro rosa a lilás e verde mais do que qualquer outra cor. Mas eu também espero nunca mais gostar de verde. 
Eu quero escrever menos do que falar, ouvir menos, opinar mais, dar palpites, me intrometer nas conversas alheias. Pra que quem sabe as coisas que eu costumo fazer hoje não sejam as coisas que eu irei fazer pro resto da minha vida. 

Marcella Casari 

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

De Início

Não sei porque eu me aproximei de você. Eu poderia ter escolhido outra pessoa pra conversar, ou eu poderia não ter falado com ninguém. Que é o que eu mais costumo fazer. Eu sou quieta e reservada. Não tinha nada a ver eu me abrir pra você logo de cara. Revelando alguns traços meus. Eu juro que não tinha a mínima intenção de te revelar quem eu era. Por mais ridícula que eu fosse, você me olhava com atenção, ouvia cada palavra que eu dizia e prestava atenção aos meus gestos. Aquilo foi de certa forma cativante, mesmo que eu nem estivesse olhando pra você com outros olhos. Eu apenas não calava a boca.
Eu morri de vergonha apesar de você (inicialmente) não me atrair nenhum pouco. Mas eu sentia que alguma coisa poderia mudar e mesmo assim eu continuava no mesmo assunto e morrendo de vontade de sair dali. Eu estava mesmo é me mostrando pra você, porque esse é um defeito meu. Eu queria te impressionar, me gravar na sua cabeça, mesmo que dali cinco minutos você me esquecesse. Eu não estava nenhum pouco afim de me apaixonar. Mas dali uns dias eu não tive opção.

Marcella Casari 

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Fera Ferida

As vezes eu abro caminho pra uma dor que não tem medida dentro de mim. E nessas vezes eu deixo moscas pousarem sobre a minha ferida, porque quando olho ao meu redor não há ninguém, e minha boca está tão seca, faço o maior esforço do mundo, e não sai nem uma gota sequer de saliva no canto do lábio. Eu peço pro vento soprar, porque minhas mãos se encontram atadas. E a ferida dilacera, corta e arde as partes do meu corpo que eu já não consigo identificar. E é sempre no mesmo lugar. Vira e mexe a ferida despede suas costuras e volta a arder em chamas, suplicando um alívio tão generoso, que não custa a chegar. É uma ferida simbólica, porque os olhos não podem ver, somente o corpo e a alma podem sentir. Você as vezes vem e descostura a ferida pronta a cicatrizar. E começa tudo de novo. Eu sofro, eu choro, eu peço pra você parar. E você para. Pega uma agulha e linha e bem de leve, soprando o ar suave da sua boca, costura a minha pele junta de novo, esconde com um pedaço da minha roupa a ferida pra que eu não veja nem sinta. Mas eu já espero, com a pele descoberta, porque eu sei que você vai abrir o machucado, vai cutucar e desfazer os nós, eu encolho os olhos nas órbitas e peço pra isso parar. Logo logo você me acolhe nos braços e diz que vai ficar tudo bem. E eu gosto disso, eu gosto de estar envolvida entre sua camiseta e sua pele cheirosa, eu gosto de estar presa de onde minhas mãos não podem sair, eu gosto quando os seus lábios vem de leve cutucar a minha bochecha até sair o sorriso mais forte de dentro da minha boca. E a ferida está ali. Mas quem se importa. E a ferida são todas as palavras que você diz, são todas as broncas, são todas as frases grossas, são todas as ordens sem por favor, são todas as vezes em que você me machuca sem querer, são todas as vezes em que você diz coisas que não deveria dizer.


Marcella Casari 


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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Eu Gosto

Eu gosto mesmo que as ocasiões não coincidam com o meu bom humor. Eu não deixo de gostar porque ao meu redor as luzes estão meio fracas e eu já não consigo enxergar, nem porque as pessoas insistem em falar baixo sabendo que eu já não consigo ouvir. Mas eu não deixo de gostar quando você veste camiseta preta, nem quando passa o perfume do frasco minúsculo, nem quando me abraça feito um urso, me esmaga, me encaixa, porque eu gosto. Eu gosto, e gosto muito e não deixo de gostar mesmo que você mude sua pasta de dente, ou use uma camiseta sem graça. E não é porque você fala baixo no telefone ou diz "agora só sábado!" que eu vou deixar de gostar. Não faço muita questão que você responda meus e-mails, nem que responda minhas mensagens exatamente com a mesma expectativa com que as escrevi. Eu só espero um "boa tarde, como foi seu dia?!". E eu ainda gosto. Não vou deixar de gostar.
Eu não esqueço que gosto, nem estou perto de uma amnésia seletiva que te colocaria no abismo do "nunca mais olhe pra mim!". Eu nunca conheci esse lugar e jamais te acompanharia até ele. Nem que o mapa estivesse embaixo do meu travesseiro. Porque nem nos sonhos eu deixo de gostar. Nem nos pesadelos. Nem na vida cotidiana, quando eu sinto uma falta esmagadora do seu sorriso e tento me contentar com o sorriso preso no mural. Eu não deixo de gostar quando eu visto um vestido deslumbrante e você está com uma camiseta simples e um tênis. E é por gostar tanto que eu uso salto alto pra sair com você. Por mais que eu sofra dores incalculáveis nos pés, eu tento estar a mais linda do universo. Só por gostar.
Eu gosto mesmo quando você briga comigo, ou finge que briga comigo, ou quando eu brigo fingindo que estou super brigando com você. E gosto ainda mais quando você me olha diz que estou linda. E até quando mente, me vê vestida de trapos e farrapos, descabelada, com chinelo havainas e meias coloridas, olha bem fundo nos meus olhos, coloca o meu cabelo atrás da orelha e diz: "Você é linda!". E eu não deixo de gostar quando você desliga o telefone rápido, nem quando você não me liga e me manda uma mensagem pedindo desculpas que está cansado, vai dormir e não vai à aula hoje. Eu gosto simplesmente por ser você. E não bastaria mais nada.


Marcella Casari


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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Amor e Vísceras

Começou como um gelo na boca do estômago e foi subindo em forma de fogo passando pelo meu pescoço descoberto e indo até a minha boca, até a ponta da minha língua. E não, não era nenhuma arma mortal que pudesse tirar sua vida da minha. O fogo perdia intensidade ao subir, e foi devagar, devagar se transformando de brasa à palavra. Palavra e mais palavras que já não cabiam dentro do meu estômago, eu estava cheia, precisava esvaziar as entranhas pra caber mais de nós dois. Mas ai você me pergunta, mas no estômago? O seu estômago estava cheio? E cheio de que? De amor é claro. O coração, o pulmão, até os meus intestinos já estão lotados de amor. Todos os meus órgãos, meus nervos, minhas células já estão cheios e eu preciso desabar um pouco desse amor dentro do seu corpo pra ver se cabe mais, sempre mais, o suficiente pra mim.
O processo dentro do meu organismo une todos os órgãos, e nervos, e células, e pedacinhos minúsculos de ossos e músculos para obedecerem à ordem de espremer meu amor ao máximo até que ele saia de mim em forma de palavras que muitas vezes são ásperas, outras doces, mas só pra que você possa escutar os suspiros das minhas brasas sendo queimadas na ponta língua até seus ouvidos. Mas se até hoje eu contive a maioria desse amor dentro do meu corpo que culpa tenho eu de deixá-lo vazar pelas beiradas? Eu respiro e transpiro amor desde o primeiro dia da minha vida ao seu lado, mesmo que ainda tentasse me enfiar pela garganta uma certeza que eu já não tinha mais, eu sempre soube que haveria espaço em mim pro seu amor. E eu sempre estive pronta pra doar um tanto do meu e receber um tanto do seu. Só de mim meu corpo enjoa. Eu preciso do seu.


Marcella Casari


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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Prosa

Essa noite tive um sonho.
Bem gostoso de sonhar.
Estávamos todos juntos a almoçar.


Sua mãe estava junto,
Toda alegre e sorridente.
Numa comemoração especial
Que parecia que era sobre a gente.


Era domingo de sol,
Que batia na janela.
E deixava aquela ocasião
Ainda mais bela.


Os teus olhos reluziam,
De alegria e ternura.
Como quem manda embora
A tristeza e a amargura.


Estávamos felizes
Juntos a nos alegrar,
Pois tínhamos algo
Especial para comemorar.


De repente me levanto,
E vou em direção daquela
Que naquela mesa
É a mais bela.


Com olhar acolhedor
Olho em seus olhos.
Que de lágrima em lágrima,
Me mostra o Amor.


Abro minha boca
E recito palavras lindas.
Que de um sonho vagante,
Cura a dor de idas e vindas.


Ainda sim pego em sua mão,
Está fria e gelada.
Clamo em pensamento,
Tomara que não seja uma roubada!.


Minhas pernas estão tremendo.
De calafrios estremecendo.
Os meus lábios se amortecendo,
Mas calma, não estou morrendo.


O seu padrasto está feliz,
Seu mãe após lágrimas
Limpa o nariz.
E eu quebrando Dogmas,
Meu destino, eu fiz.


Parecia que era ao seu lado,
De Amor em Amor vivendo.
De no passeio ao relento,
De poesias me declarando,
Ia te dizendo.


Acordei assustado,
Após isto imaginar.
Mas esta noite tive um sonho,
Bem gostoso de se sonhar.


Fernando A. Marcelino.


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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ao verdadeiro Amor

Eu sentia dentro de mim que fazia parte de algo muito maior do que o que eu estava vivendo. Não que o que eu vivia não me fazia sentir completa, afinal de contas era uma maneira de me completar, de completar o outro. E foi a maneira boba que até então a gente tinha pra demonstrar amor. Vai, boba não, mas a errada. Pra gente estava tudo certo. Ok, não estava tudo certo. Nada estava certo até uns dias atrás. Mas agora está, e é isso que basta. Eu creio que basta. Mas voltando. Eu tinha certeza que o chamado de Deus era para as nossas vidas, não tinha como não ser, foi por Ele que estamos juntos, foi por Ele, com Ele e para Ele.
Todo fim de semana eu me sentia dividida ao meio. A metade mais comum fazia tudo pro próprio umbigo, pro próprio ego se sentir o máximo. A outra metade, mais santa ia pra Igreja, e dentro de si imaginava um salão imenso e uma porta gigantesca em que eu não podia entrar de maneira alguma, e a voz do Senhor me chamava, gritava-me, e eu dizia que não, que eu não podia entrar. Eu fazia o meu louvor ali do lado de fora mesmo. Muitas vezes eu me perdia de mim e entrava correndo, jogava-me nos braços do Senhor e implorava a Ele pra não me deixar ir, mas de uma maneira secreta (só a mim) eu conseguia escapar. Eu ficava nessa lenga lenga de vai e volta. Até que eu tranquei a porta. Não Deus, Ele não queria me deixa pra fora. Eu mesma cavei minha cova e me joguei nela.
Mas o Senhor é maravilhoso, Amém! E não sozinha consegui destrancar a porta e hoje estou nesse salão magistral, onde o teto não se pode ver, onde a única parede, a que tinha a porta já não existe mais. E por mais fácil que pareça sair de lá. Eu não saio nunca mais. Ou melhor. A gente não sai.


Marcella Casari


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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bem dizia o poeta,


Entre as razões de tudo,
Entre a lógica de tudo,
Entre o óbvio de tudo,
Entre tudo o que se possa pensar,
Está Você
Que não é razão, é sentimento
Que é a lógica, do Amor
E que é tudo, que eu penso
Estar ao seu lado e jamais me separar.


By: Fernando A. Marcelino.


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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Amizade


Mentiram quando disseram que falar do amigo é tarefa simples. Mentiu descaradamente, sem a mínima vergonha. E posso ainda garantir, que esse não tinha verdadeiros amigos. A amizade é árvore pra ser cuidada aos poucos, podada, regada, e principalmente amada. Que sem amor nada seria. O amigo é fruto da amizade, é a raíz, as folhas, e principalmente a sombra. Amigo nem sempre tem na boca as palavras doces, mas se forem salgadas, ou ásperas é por amor, que só corrige quem ama. E ama muito. O amor é claro, é a luz, a água, a própria fotossíntese das plantas. Amigos assim dão gosto na vida da gente, e não, não é fácil cuidar. Mas eu cuido porque senão, sem você, eu não seria nem metade do que sou, e com certeza minha primavera não teria flor.


Marcella Casari


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terça-feira, 20 de julho de 2010

Farol do carro

Eu não costumava parar pra me arrepender dessa forma. Antes eu fazia, e fazia bem feito. Depois eu ficava pensando nas consequências. Fossem elas boas ou ruins. Mas eu ficava em silêncio, ouvindo gritos abafados pelo som alto da música, ou pelos pedidos desesperados que as vizinhas faziam pra que fizéssemos silêncio àquela altura da madrugada. Eu sinto que não estava pronta pra assumir pra mim mesma que eu e minhas amigas crescemos. Isso. Espante-se tanto como eu me espantei quando me dei conta que não iríamos brincar de uno, nem assistir a um filminho bacana (já nos colchões, prontas a dormir antes do sol nascer).
A noite que eu vi começar só havia lua num céu escuro avermelhado. O chão era gelado, eu me preocupei em sujar a minha calça, não era bem o que eu queria, estava apreensiva a respeito do meu sobretudo, não queria encostá-lo no chão de maneira alguma. Estávamos sentadas na calçada sem a mínima noção de horário brincando de brincadeira diferentes, ouvindo respostas aparentemente novas, sabendo dos segredos. E havia um cheiro forte, que fazia meus olhos lacrimejarem. Eu dizia não. Fui bem determinada e confiante. Eu disse não porque eu queria dizer não. E não. E não. E não.
Eu ouvi risos a noite toda. Eu ouvia gritos, risadas, o flashe da máquina, a luz forte que vinha dela. Depois o céu que eu via havia mudado. Claro. Nós havíamos mudado. Fomos pra um lugar distante, bem longe da calçada úmida. Aliás, lá não havia calçada, nem muros, nem casas, nem vizinhas ameaçando chamar a polícia. Éramos apenas nós, olhando o céu mais estrelado do mundo inteiro, sentindo o cheiro da neblina que vimos passar, perfume masculino e álcool. Saia fumaça da minha boca, o frio era incrível, a falta de iluminação causava tremeliço nas pernas. Eu olhava pra cima e girava. Era tão lindo. Minha cabeça doía, mas e dai. O farol do carro desligado. Um silêncio cheio de aventura e um pouco de medo também. Eram duas e pouco da manhã. Outras pessoas das quais eu amava mais que tudo estavam dormindo, e eu estava lá, tão longe, carregando todo mundo de importante na minha mão pra que quem não estivesse ali conosco, estivesse de alguma forma. E estavam. Eu sei que estavam.


Marcella Casari


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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Meu pai

Meu pacato herói menino; que mesmo sendo eu menina, sempre te almejei.
Meu presente mais sincero; que em cada ação demonstra a mim, teu zelo.
Meu segredo incerto; que me ilumina mesmo sendo apenas de carne e osso.
Meu pequeno homem de verdade; de palavras duras e severas, que servem de amparo ao meu ingênuo coração.
Meu gigante imensurável; de carinhos e conselhos, diminuído ao meu pranto.
Meu amigo; de doces risadas vivas, dentro ou fora daqui.
Minha imagem como de igual para igual, teu semblante resplandece meus detalhes.
Meu parceiro de aventura; nos meus sonhos torno-te meu escudo inseparável.
E meu pai, mesmo que tu proves de todos os amores, do meu jamais encontrará.


Marcella Casari


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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Do céu

Saber enquanto
Posso subir as escadas
Do céu.
Você mancha minha
Pele, como quem lava
As mãos.
E o que sinto quando
Olho pra ti?
Coração não sabe nem o
Porque de tão feroz.
Sorrindo, seus olhos
Brilham, teus lábios
Meus faróis.
Sentindo o sol,
Tu o fazes de apoio para
Ver o mundo da
Porta do céu.
Lendo meus sonhos
E tomando
Conta do meu ser.
Sabes como cuidar
De todo o meu caminho
Que vai pra não sei onde
Quando você
Está aqui.
Cantando sua cantiga
De ninar, faz
Beija-flor procurar,
O amor.
Plenitude de ouvir o mar
Bater nas pedras e voltar
Ir lá buscar quem
Perdeu asa e ensinar como
Voar.
Voar alto sobre o céu
Que teu olhar sabe
Imitar.
Que tua beleza
Não se iguala.
O vento corre solto
Sem receio, te fazendo bailar.
Fazendo a insurreição de
Tudo o que te simplifica.
Traduzindo seus gestos ocultos.
E meus olhos provocando
Amor, levando pra além a dor.
Tendo a coragem de gritar
Que te clamo, amor meu
Esse que me faz bem.




Marcella Casari


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Obrigada

Obrigada por me fazer acordar. Obrigada por ser um motivo para que eu abra meus olhos todas as manhãs, graças a Deus. Obrigada por encarar meus olhos e fazer deles a forma com a qual exprime a sua confiança em mim. Obrigada por beijar a minha face, declarando a mim, toda a sua proteção. Obrigada por segurar a minha mão e me fazer senti-lo sempre comigo. Obrigada por cuidar de mim. Obrigada por me abrigar em teu colo de amor. Obrigada por pensar em mim. Obrigada pela sua saudade. Obrigada por me permitir ouvir a tua voz e me sentir segura. Obrigada por vê-lo. Obrigada pelo seu sorriso. Obrigada por ser meu e muitas vezes não. Obrigada pela distância que nos aproxima. Obrigada por teu zelo.
Obrigada pela nossa união. Obrigada por fazer parte da minha vida. Obrigada por me fazer feliz. Obrigada pelas suas mordidas, lambidas, ofensas e tapas. Obrigada por me achar linda, obrigada por elogiar o meu cabelo. Obrigada pelas suas mentirinhas. Obrigada pela sua sinceridade. Obrigada por negar. Obrigada por me fazer chorar, pensando em você. Obrigada por estar lá, e aqui comigo, ao mesmo tempo. Obrigada por me ouvir. Obrigada por me inspirar. Obrigada por dançar comigo. Obrigada pelas fotos. Obrigada por me fazer lembrar de você. Obrigada por dizer que não me ama, fazendo-me conquistá-lo. Obrigada por aparecer e acontecer na minha vida. Obrigada por ser cativante, contagiante. Obrigada por cantar comigo. Obrigada pela falta que me faz. Obrigada por levar uma parte de mim sempre. que se vai. Obrigada por me permitir sentí-lo. Obrigada por ficar acordado até tarde comigo.
Obrigada por andar pela rua tarde da noite ao meu lado. Obrigada por ser você mesmo. Obrigada por me aceitar. Obrigada por acreditar em mim. Obrigada por ser lindo. Obrigada por ser mais velho. Obrigada por conversar comigo. Obrigada por muitas vezes não precisar falar nada. Obrigada por se aproximar de mim. Obrigada por sussurrar no meu ouvido, obrigada por falar baixo, devagar, bonito. Obrigada por me considerar. Obrigada por se desculpar. Obrigada porque adoro você. Obrigada por se sentar ao meu lado, por estar do meu lado, por me escutar. Obrigada pelos apelidos. Obrigada por ser chato, insistente, amigo, fiel. Obrigada porque me motivas. Obrigada porque contigo confio na vida. Obrigada por me fazer amar. Obrigada por me fazer amá-lo. Obrigada por me dar amor. Obrigada por me amar.




Marcella Casari


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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Perfil

Até a necessidade de andar de mãos dadas, tomou outro rumo e partiu daqui. Eu não entendo muito bem dessas coisas, mas tudo certamente tem alguma coisa a ver com o pessoal, com o íntimo, com a discreta parte de mim que é invisível aos olhos. Eu saio correndo atrás dessa necessidade, porque toda mulher sonha que seja assim. E ela volta porque sem essa parte eu não sou ninguém.


Uma mulher não precisa de razão para amar. O amor de uma mulher transcende a realidade visível. Ele paira no ar. Ele respira. Ele vive. O amor sai pelos poros da pele, nos cantos dos olhos, nos sorrisos, nas risadas, ele não justifica o sacrifício, ele não explica a saudade.
E isso homem nenhum pode ver.


O charme de uma mulher não envolve o homem. A mulher em si é que tem de envolvê-lo em seus mais discretos fios e gestos. Homens não são presos por palavras, mas correntes de afeto.


Não, mulheres não sabem disfarçar. Não ouse pedir a uma para que encolha dentro de si suas alegrias. Mulher é expositiva por natureza. Não disfarçará nunca um sorriso dentro da boca. A alegria lhe vaza pelos cantos.


E o melhor da vida é que um amor saber reconhecer o outro. É tão boa essa fase eterna de estar amando e ser amado, e não sentir pressa dos dias passarem. Nem sede, nem fome. É a alegria de um fazendo festa na vida do outro. É recíproca clara e estampada na cara. É amar e amar, e amar mais ainda.




Marcella Casari


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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Há um tempo


Não, não me dá liberdade não, senão eu falo mesmo, ah, parece que você veio aqui, destrancou uma porta que estava emperrada dentro de mim, pronta de desabar tudo, pra cair tudo em cima de você, seu bobo, por que você fez isso? Parece que não sabe o perigo que são as portas enferrujadas que estão dentro de mim. Eu não queria aproveitar essa oportunidade pra despejar tudo o que esta dentro dela, sei que é muita coisa, e pode não parecer, mas, estava tudo ajeitadinho ali dentro, uma organização impecável, eu levei tempo pra organizar, colocar cada um no seu devido lugar, eu não queria me aproveitar da sua bondade. É meio bobeira, é totalmente vai, totalmente bobeira, mas o que esperar de uma boba de dezessete anos que não sabe nem o vestibular que vai prestar no final do ano? Sabe o que mais me machuca? A minha única certeza ser você e ao mesmo tempo não ser. Eu tava super animadinha com esse negócio de Araraquara, mesmo, mas ai tem Londrina, é mais perto e eu posso morar com umas amigas minhas que também querem UEL. Eu to realmente com medo, bastante, eu não queria fazer uma faculdade agora, mas tudo, todos me levam a isso, EU TENHO QUE FAZER, nem que seja fema. Eu não queria, mas eu to me acostumando com isso, eu sou meio tontinha (não venha me dizer que você não sabe, porque você sabe que eu sou) e eu só consigo pensar em escrever, é uma inutilidade que me faz bem, bom, dá pra perceber porque ao invés de eu estar olhando nesses seus dois olhos maravilhosos que me conquistam a cada instante, eu estou aqui, no meu computador, ouvindo uma música do mundo, bem lenta, pra ver se as idéias fluem melhor, pra ver se dessa vez eu não te assusto tanto, como sempre. A faculdade me ajudaria sim nessa minha mania, com toda certeza, mas, todas as minhas amigas tão querendo morar em Marília, fazer famema, mas isso só daqui dois anos, e eu tenho que passar agora, esse ano, porque eu vou fazer 18 anos e elas não. Eu não sei exatas e me diz como eu passarei no vestibular assim? Se meu cérebro só consegue assimilar números de telefone? Eu só consigo estudar humanas, eu viajo em história e geografia e meu maior prazer é ficar resolvendo exercícios de português, mesmo que de 45 eu só acerte 36. Eu to morrendo de medo de não passar em nenhum vestibular, e a minha mãe já não ta querendo pagar a inscrição da UEL pra mim, e meu pai? Bom, ele não vai querer pagar. Que eu posso faze se a minha mãe quer que eu faça duas faculdades ao mesmo tempo? Que se exploda se de repente eu pirar na batatinha. Não, eu não quero ir pra uel pra ficar longe de você, eu quero é ficar perto de você, bastante, mas mesmo em Londrina ou em Araraquara você sabe que me tem nas mãos, seja lá o que isso signifique pra você. Eu to indo muito mal na escola. É muita coisa pra estudar de uma vez, pra um único dia. Quarta agora eu tenho simulado do enem, outro simulado do enem e nessa a minha nota conta, e conta muito, eu NÃO posso ir mal, não posso. Mas as coisas simplesmente fluem perfeitamente na sala de aula, é eu abrir a porta da sala, que tudo some da minha cabeça, e eu passo a tarde toda limpando a casa e quando eu tenho tempo pra estudar, eu tenho que jantar, tomar banho e qualquer outra coisa. Eu não consigo me desligar de muita coisa. Vai ver que é porque eu não quero, sei lá. Mas eu quero, não quero? Eu to com medo. Eu sou o medo de duas pernas vestido com roupa de mulher. Sou. Devo mesmo ser. Eu preciso muito de você, isso me agoniza e me irrita profundamente, muito, e eu fico super envergonhada com isso. Onde já se viu? Por que eu preciso de você? O certo é eu não precisar né? É eu ficar calma e linda assim como você fica. Eu sei que isso é o certo, mas ao mesmo tempo eu não consigo. Droga, você nem imagina o bem que você me faz, do seu lado, ah, do seu lado eu me sinto a melhor pessoa do mundo, como se nada pudesse me abalar, como se tudo fizesse sentido e valesse a pena, a pena que for. Eu sinto demais a sua falta e ao mesmo tempo eu quero provar pra todo mundo que eu não dependo de você, não dependo de você. É ridículo isso né? Não, pode rir, pode mesmo, rir bastante porque eu gosto de você rindo, ah, como eu gosto. É ridículo, parece filme, e isso é péssimo. É péssimo não é? Eu gostar tanto assim de você? Você me fazer esse bem danado? É péssimo não é? Eu nem imagino o que você vai pensar disso tudo, mas quando eu souber mentir pra você eu juro que vou mentir, enquanto isso você lê as minhas verdades enquanto não as pode ouvir.


Marcella Casari


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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Semana de Gripe

Estou gripada. Meu nariz parece um chafariz remendado de dor. Minha cabeça arde suplicando pela amoxicilina que acabou semana passada e o pior de tudo é que eu tive que tirar as luvas pra digitar. Há uns quinze minutos eu tomei um chocolate quente transbordando leite condensado e dessa vez eu não queimei a língua. Fiz pipoca na pipoqueira da minha mãe, o sal e o sazon foram parar no fundo do pote, e eu caçava e esfregava minha pipoca no tempero, mas não saia nada. Enquanto isso eu discutia com a minha irmã as cenas do filme. Eu precisava desses mimos de mulher vagabunda, que passa o dia inteiro dentro de casa, dormindo depois do almoço pra ver se encontra nos sonhos um ânimo mais conveniente pra me fazer abrir os livros e estudar que nem uma condenada. Hoje a tarde meu namorado me ligou e eu disse que mês que vem eu morro. Mas morro mesmo, as provas das faculdades vão coincidir e dessa vez a minha cabeça vai rachar mesmo. Não sei se é só a falta de coragem, não, acho que o frio também me faz mal. Atrofia meu cérebro, enruga minhas ideias, minimiza minha criatividade. Eu gosto de ficar enrolando na cama, fingindo que as preocupações se cansaram de mim e que pularam a janela do meu quarto, finalmente me deixando em paz. Mas ai outras vem pela fresta da porta, ou na sujeira do meu chinelo, ou saem da televisão, do rádio, do telefone, dos cadernos, dos livros, dos xerox, das canetas, das provas, das aulas..
Eu estou gripada poxa, as férias poderiam começar logo.
Ah, eu prometo que semestre que vem eu tomo coragem antes de ir pra(s) faculdade(s).


Marcella Casari
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terça-feira, 11 de maio de 2010

Menina - O Teatro Mágico




Já sonhei nossa roda gigante esconde -esconde em você
Já avisei todo ser da noite que eu vou cuidar de você
Vou contar historias dos dias depois de amanhã
Vou guardar tuas cores, tua primeira blusa de lã


Menina vou te guardar comigo
Menina vou te guardar comigo


Teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor
Tua água eu vou buscar na fonte teu passo eu já sei de cor
Sei nosso primeiro abraço, sei nossa primeira dor
Sei tua manhã mais bonita, nossa casinha de cobertor


Menina vou te casar comigo
Menina vou te casar comigo...Vou te guardar comigo


Sou teu gesto lindo
Sou teus pés
Sou quem olha você dormindo


O Menina guardo você comigo
Menina guardo você comigo


Nosso canto será o mais bonito Mi Fá Sol Lápis de cor
Nossa pausa será o nosso grito que a natureza mostrou
A gente é tão pequeno, gigante no coração
Quando a noite traz sereno a gente dorme num só colchão


Menina vou te sonhar comigo
Menina vou te sonhar comigo


Sou teu gesto lindo
Sou teus pés
Sou quem olha você dormindo


O Menina guardo você comigo
Menina guardo você comigo (2X)


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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Afetivo

Até porque, do ponto de vista afetivo eu não tenho nada a esconder. Nada mesmo. Eu nunca cheguei a comentar com você que você é sem sombra de dúvida a minha maior convicção. Eu estava determinada a não errar quando jurei pro meu coração que você seria o primeiro e o último homem a me fazer sentir assim. Convenci todos os meus órgãos sensitivos de que você seria (e é) o único que me faria perder o fôlego, que me tiraria os pés do chão, que me faria sorrir como uma boba, que faria meus olhos brilharem, que seguraria na minha mão o tempo todo, que me abraçaria o tempo todo, que me beijaria, que me juraria amor eterno. Esse pra sempre que a gente jura um pro outro é a coisa mais patética e ao mesmo tempo a coisa mais sincera que eu já disse. É estranho eu me dispor assim por alguém. É estranho eu estar aqui, meu Bem, disposta a nunca desistir de corrigir seus erros, assim como você nunca esquece dos meus. Eu acho proveitoso esse negócio de um prometer cuidar do outro, pode parecer tagarelice, conversa fiada, mas as pessoas não sabem a diferença entre amor e qualquer outro sentimento que passe pelo coração. Você é com certeza o primeiro e o último e essa promessa eu te farei até o último dia da minha vida.


Marcella Casari


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terça-feira, 13 de abril de 2010

Dias

Nos dias de semana eu não vivo. Não tenho vida pulsando dentro das minhas veias, mantendo meu coração funcionando, o oxigênio circulando pelo meu corpo. Eu não vivo, eu existo, essencialmente para marcar presença nas salas de aula, ouvir e conversar sobre assunto que não me interessam, ver pessoas que a maioria não me agrada, escrever, ler, desenhar coraçõeszinhos nos cantos da folha, repensando na cabeça que dia da semana é esse que fica tão longe do final de semana, e porque a semana existe? Pra me separar do fim de semana, dos únicos dois dias e meio em que eu realmente vivo. São os dias em que sinto emoções, em que vivo de emoções. Eu falo, eu sorrio, eu choro, eu caio, eu levanto, eu ando, eu me sento, eu me deito, eu durmo, eu ando de mãos dadas, eu beijo, eu abraço. Eu sobrevivo de segunda à sexta-feira a tarde pra poder reverter todos os meus dias de vida, aos fins de semana, onde eu faço tudo o que eu sinto vontade, porque, de uma maneira ou de outra, é do seu lado que eu me sinto bem, e parte de um mundo que as vezes parece não querer que eu faça parte, porque, sem você as coisas ficam sem graça, os dias simplesmente passam, o frio simplesmente me corta, o céu simplesmente escurece. Eu fico a semana inteira em silêncio esperando a sua voz pra alcançar a minha.
E eu sinto medo disso. É muito egoísmo da minha parte precisar tanto de você pra poder viver..


Marcella Casari


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sexta-feira, 12 de março de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dezoito anos vírgula dois mil e dez

Nós mulheres chegamos em certa fase da vida em que temos que assumir os riscos de ser mulher. Chega determinado tempo em que não adianta mais esconder; as responsabilidades simplesmente surgem e ainda sentimos a sutil sensação de estarmos trocando de pele, como se parte de nós estivesse presa à necessidade de usar tênis e uniforme escolar e outra metade exigisse salto alto, maquiagem e faculdade. E essa história de fazer dezoito anos não é fácil. As pessoas me olham como se eu tivesse a obrigação de saber como as coisas são pras pessoas que já tem dezoito anos a mais tempo do que eu, como se o calendário marcasse automaticamente em minhas veias todas as minhas responsabilidades, obrigações e deveres para com a minha família e sociedade. Hoje eu sei que posso ir ao hospital consciente de que a primeira dúvida da enfermeira é se eu estou grávida. Agora eu tenho cara de mãe. Ou de irresponsável. Hoje eu posso ir lá na Carisma, sozinha, comprar um body e deixar a vendedora curiosa pra saber se eu vou usar pra “namorar” ou se é pra usar debaixo da roupa. Agora eu posso ficar sossegada, pois, minha intenção de parecer mais velha finalmente deu certo. Meu colega de turma (na faculdade) ainda olha pra mim questionando-se se eu terminei o colégio há muito tempo ou se sou uma jovem inexperiente que acabou de terminar o ensino médio e que ainda tem dúvidas de matemática básica. Não parece, porque dezoito anos sempre subentende experiência.
Agora eu já fico pensando o que reserva meus dezenove anos. Se no dia do meu aniversário eu ganho um body do meu namorado ou aprendo matemática básica de ensino médio. Ou nenhum dos dois. O que é mais provável. E provavelmente é sempre sim.


Marcella Casari


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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Página Amarela

Biblioteca Municipal. Rua da Solenidad, número 547. Meus livros (futuramente) preferidos ficavam do lado direito, numa estante nova, bem organizada, que cheirava a páginas velhas. As revistas ficavam sobre as mesas numeradas espalhadas por todo o prédio. A princípio tive receio em me sentar numa daquelas mesas, eu não conhecia bem as pessoas que iam àquele lugar, meus colegas de classe com certeza preferiam estar dentro de seus quartos ou salas de jantar a estar ali, provando que tinham algum interesse em ler fora da escola. Eu tive medo. Mas a curiosidade me instigava. Puxei uma cadeira, sentei-me cuidadosamente e folheei algumas páginas, passando as palavras pelos olhos, sem o interesse de decifrá-las e entender o contexto maior que as organizava.
Passadas duas horas e eu não havia formado nenhuma frase que fizesse sentido, não que as palavras emaranhadas nas folhas não me deixassem desejoso de conhecê-las mais e mais, mas eu tive receio de me pregar nelas e desviar a atenção do movimento que me rodeava. Bom. Movimento nenhum, apenas eu a revistas e todas as cadeiras vazias.

Até que meus olhos crucificaram-se numa imagem que mais tarde resumiria toda a minha vida. Uma mulher. Não. Não que eu nunca tivesse visto uma mulher daquele jeito. Mas não foi o jeito dela. Foi o meu. Eu tinha nove anos, poxa. Eu estava em uma biblioteca, cheia de livros, revistas, palavras, informações, detalhes, corpos esculpidos com perfeição. Calma. Eu disse corpos esculpidos com perfeição? Sim. E ali eu vi até a sombra que o corpo dela despejava sobre o chão do estúdio fotográfico, apenas ela, algumas luzes, o fotógrafo e atenção. Muita atenção. Ela era perfeita, até aquele momento ela era a única coisa perfeita daquela biblioteca. Não resisti e a levei comigo, rasguei aquela página da revista, dobrei com cuidado, coloquei no bolso da calça e sai correndo. E eu gostei de tê-la posto no bolso da calça (...)

Marcella Casari

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Goma de mascar

Eu tinha dezesseis anos e via o mundo cor-de-rosa e sentia o gosto doce do trident de morango da boca do meu vizinho e pensava o porque será que além de rosa o mundo não tinha gosto de morango. E eu não conhecia outra cor. Nem outro gosto. E nunca achei ruim isso, nem me fez mal, nem cheguei a ter dores de cabeça com problemas políticos socioeconômicos, nem dor de barriga por mascar tanto chiclete. Sempre pintei a unha de rosa, sempre vesti rosa mesmo sabendo que nunca me caia bem. A sensação que ele me causava vinha de dentro e as pessoas não eram capazes de enxergar o que eu sentia. E o mais engraçado é que eu sempre achei que tivesse que traduzir sentimentos incrustados em rochas de pessoas fechadas como caramujos depois de uma chuva de verão. Algumas das minhas teorias eram tão fajutas e tão fora da realidade, que a pessoa olhava pra mim dos pés a cabeça, analisava meu penteado psicodélico e tirava suas conclusões precipitadas sobre meu comportamento infanto-juvenil. Isso porque era minha função julgar o que estava pensando. Ou achando. Ou sentindo.
Cor-de-rosa pra mim já é toda uma mistura de todas as cores que naturalmente eu já não dou a mínima, mesmo. Não porque não são belas. Mas eu aprendi que a beleza é uma mulherzinha egoísta que dita o que é certo ou errado pra maioria das pessoas. E feiúra é aquela garotinha de vestido remendado que procura um namorado pela Internet, sem ter computador.

Marcella Casari

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O primeiro de 2010 pro meu muso

A gente não concorda em nada e quando combina é sem querer, completamente. Porque eu jamais admitiria um fracasso. Não que me vestir igual a você só que inversamente seja proporcional ao fracasso, na realidade não é. Admito que procuro briga, mas você não faz por menos, colabora com a minha raivinha de tpm, faz brincadeirinhas e tapas na testa. Eu detesto admitir que entreguei meu coração a um homem que detesta admitir o tempo todo que me ama. E não está sendo fácil. Você deixa em mim um gosto de saudade que começa a evaporar da minha pele e não me deixa dormir em paz. Eu preciso recostar a cabeça no seu peito, sentir sua respiração balançar meus cabelos, ouvir seu coração batendo contra o meu ouvido, participar ativamente do zigue-zague do seu peito e sentir sua mão no meu braço. Não vou dizer que não preciso, porque se dissesse estaria mentindo, então conforme-se, eu preciso de você. Não, não é só carência, não, é necessidade. É necessidade, é saudade, dê o nome que quiser ou não dê. Conforme-se meu caro, eu já estava pensando em me mudar pro seu quarto, levar comigo minha escova de dentes, escova de cabelo, secador e a maquiagem. Não que eu tivesse mesmo coragem de desobedecer meus pais. Mas seria hilário ficar com você sem me preocupar com a hora ou com o que as pessoas estão pensando disso. Mas vai, se eu já esperei sete meses eu espero mais cinco anos pra fazer isso, e saiba que eu vou levar muito mais.

(Beijos, Homem da minha vida).

Marcella Casari

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Não precisa parar

Se hoje eu criei um bloqueio entre nós, me desculpe, mas as vezes eu preciso ser intransponível só pra testar seus instintos animais e ver até que ponto você consegue ficar perto de mim. E não é de se espantar que não tenha desistido logo, eu criei pra você uma espécie de batalha essencial pra viver, eu tinha que começar falando baixo, sussurrando, beijando sua bochecha, seu queixo, seu pescoço (tudo do lado direito) e dizendo o quanto eu te amo. Não que isso tudo seja mentira, pelo contrário, ver seus olhos meio fechados, manchados de vermelho e com a minha cara neles me fez sentir amada e consolada pelo seu amor, seu carinho. Eu precisava lutar contra meus instintos carnais e venci. Não foi tão difícil. O meu lado animalesco, selvagem ainda não exerce tanta influência sobre mim, meus desejos estão se aflorando debaixo da pele, subindo pros meus pelos, mas isso leva tempo, não vai ser de um dia pro outro. Tão rápido assim. Não precisa ficar com medo. Pode continuar confiando em mim, me arrastando o corpo perto do seu, encostando a boca perto da minha, colocando a mão na minha cintura e massageando, pode continuar me pedindo pra parar, fechando os olhos e comentando da minha pupila dilatada, da minha barriga quente e das minhas mãos frias, pode continuar me comendo com os olhos e dizendo que me ama todas as vezes que eu te digo que te amo, pode continuar, não precisa parar, não precisa parar...

Marcella Casari

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pra Guardar

"Eu te amo porque você me faz querer amá-lo, eu deixo o mundo parar de girar ao meu redor pra que ele também faça curvas em sua órbita. Eu preciso te fazer feliz, à minha maneira, a mais esquisita de um egoísmo mais profundo. Ironia eu diria. Até mesmo meio sarcástico com um pouco de dúvida interna, mas que se lixe todo ponto de interrogação.
É estranho esperar pra te ver todos os dias, eu sinto um pouco de vontade, uma espécie de loucura subindo dos pés à cabeça, tomando controle de mim e eu preciso te ver, estar com você pra sarar toda essa dor que nem sei se tenho".

"Você ainda não aprendeu quando me contrariar. Você ainda não sabe quando eu preciso que você aceite meu não ou sim como resposta definitiva, sem questionamentos e dúvidas espalhadas na cabeça. Tem muita coisa ainda que eu preciso encucar na sua cabeça, ou eu simplesmente deixarei que o tempo cure muitas fendas abertas em nosso relacionamento. Mas são por essas aberturas, pequenas, do tamanho do meu olho direito (que eu vejo melhor) que eu consigo me acostumar que com você minha vida tem muito mais gosto de vida, que faz até a saudade ter gosto doce. E não é fácil degustar desse sabor, deixar a saudade escorrer nos cantos da boca sem nem ter como limpar depois, porque de qualquer forma nem tem jeito, eu deixo o amor, a saudade transbordarem mesmo. Só você pra me deixar melecada (de saudade, amor,..), sem aquela ojeriza básica de todo o sempre. Eu te agradeço por dar vida e sentido e direção pro meu destino. E seria muito chato sem você perto de mim".

Marcella Casari

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Tira esse peso de mim

Tira de mim esse peso insuportável, sei que sou homem, mas não consigo carregá-lo em minhas costas. Este fardo é grande e está me causando grande cansaço, tira da minhas costas alguns pedaços, abrindo mais feridas. Meus coração está disparado, a respiração ofegante, já não sei se sou recessivo ou dominante, de mim mesmo nesta jornada. Já não agüento tanta vergonha, zombaria, olhos rindo de mim. Já pensei em ir embora pra algum lugar, de coração apertado, pesado, triste, chorando, ir pra aonde ninguém me conheça, e pedir a Deus pra esquecer todas as pessoas que hoje eu conheço e para que todas se esqueçam. Tentei sair correndo mais meu joelhos doem, minhas pernas tremem de tristeza e raiva, a mágoa toma conta de um lugar aonde deveria estar só a alegria e por isso, meu coração desfalece. Não quero deixar ninguém triste, muito menos você, mas nem eu me amo mais e não consigo aceitar suas palavras "Eu te amo". Por favor me esqueça, não se frustre nem se aborreça, vai ser melhor assim, eu sozinho no mundo e você com outro que realmente te dê o seu devido valor. Você fez minha vida pirar e virar de ponta cabeça, nunca houve tantas mudanças ao mesmo tempo em minha vida, você é louca. Toda vez que você me liga eu estou com sono, e você briga comigo, mas é que há meses não durmo bem, estou preocupado com algo ou com alguém, não sei ao certo, não sei mais o que é mal ou bem. Moça, mulher, menina, eu vou te guardar comigo, só pra carregar o amor dentro de mim. Só pra ver se eu consigo, me alegrar e não viver tão triste assim. Por mim não chores, não quero ser merecedor de nenhuma lágrima sua, só o peso que carrego já está de mais, mais uma lágrima e eu me mato, dou um jeito e vou embora pra sempre, pra logo ali aonde os que já se foram estão, se foram e não se foram porque estão ali dormindo. Até logo, quem sabe eu veja você feliz com outro cara em breve, ficarei sozinho, não me compromissarei com outra porque meu coração não se atreve. Não se atreve a tal porque seria uma grande mentira, mentira de dor, sofrimento, lágrimas, de morte.

Fernando Augusto Marcelino


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