Eu sou muito achegada às coisas. Eu me aproximo delas e logo elas estão coladas em mim, nas minhas manias e no meu jeito de ser. Eu distribuo afeto, e cola de bastão pro mundo todo ficar bem perto de mim. Pra gente não se desgrudar. Assim. Ao pé-da-letra mesmo. Porque estar perto de alguém é sentir o seu afago aparecendo em meio ao silêncio e à necessidade de estar com os olhos vidrados nos olhos da outra pessoa, pra ela não precisar de mais nada no mundo. Eu gosto dessa aproximação excessiva. Das peles grudadas com o suor das palmas das mãos, com as risadas remexidas dentro do estômago, e até das lágrimas lambendo a face, lavando a alma como dizem por ai. Eu sou muito próxima. Sou claramente apegada às pessoas e às cargas delas, e às alegrias, e às coisas ruins delas misturadas com os sorrisos e às caras amassadas. Eu sou apegada às pessoas e aos objetos pessoais delas, às roupas que eu memorizo, às frases mais ditas, aos segredos que eu posso até não saber. Às cores preferidas, aos nomes. Sou apegada às lembranças que eu guardo numa caixa, nas lembranças que não são guardáveis no armário, às lembranças que ninguém mais sabe. Eu gosto de memórias. Eu sou muitíssimo apegada às datas (...)
Marcella Casari
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