terça-feira, 9 de dezembro de 2008

E se...

Se eu olhasse bem fundo nos teus olhos, você ainda diria que sim? Mesmo que em cada instante eu sinta teus olhos sobre mim, tua face te condena. Tua voz muda, teu semblante sucumbi, teu sorriso se lisonjeia, e todas as tuas atitudes tornam-se vãs. Mesmo assim tu negas. Mas tua mão branda dentro de ti, estremece, deseja tocar-me numa carícia que não cessaria, não seria vaga. Toda a reciprocidade que achas que não lhe devo seria dada, pois cada sentimento teu também é meu, pertecem-me. Cada vez que abro minha boca, confesso que olho pra ti, e teu olhar desvia minha atenção, será que me escutas? Curioso eu diria, mas bem mais que isso. Se for amor, quem sabe na crua realidade eu sinta, quem sabe, eu até creia em ti.


Marcella Casari

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Encontro

E nem sabia mais seu nome, e mesmo assim ele veio na minha direção e me estendeu a mão para cumprimenta-lo, meu sorriso saiu meio forçado, e eu realmente não estava interessada se estava bem ou mal, mas enfim ele percebeu minha indiferença e disse se chamar Carlos.
Assim que estendi minha mão, ele me puxou para si com força e me abraçou lentamente, beijou meu rosto encostando sua mão direita por detrás da minha cabeça, massageando-a, seu corpo estava quente e sua mão suada refrigerava meus cabelos, seus lábios eram macios, de um beijo prolongado, sua respiração junto ao meu ouvido era ofegante e seus olhos, verdes. Na situação não sabia nem se o abraçava ou se ficava paralisada, o envolvi em meus braços e senti seu calor no meu corpo gelado.

Marcella Casari

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Despedida I

Despedidas contradizem todos os meus valores. Não fui feita pra me perder em lágrimas por pessoas que vão embora. Não quero agora me despedaçar de saudades, sentindo falta dos sorrisos, abraços, conversas e beijos. Se despedidas fossem opcionais, não escolheria nenhuma. Todos os culpados estariam comigo, sempre, e dizer que pra sempre é egoísmo, mas me tornaria a mais egoísta só para mantê-los aqui. Pode não ser muito longe, nem muito perto, mas perto mesmo seria nenhum pouco longe. Um dia vou acordar sem vocês, e não sei se terei o mesmo sorriso de antigamente.

Marcella Casari

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Despedida II

Mas eu me entristecia, realmente, sentia-me triste e imunda como um pano velho. Não sei que dor era aquela que brotava dentro de mim, e filmes repetitivos se passavam na minha cabeça, e eu sei que aquilo poderia ser tão único. Minhas lágrimas não precisavam nem de motivo para escorrer, apareciam sem serem anunciadas e uma saudade inimaginável saia de dentro dos meus olhos, como uma tinta, escorrendo. Faz noites que me sinto assim, que me deito na cama e me desgasto de saudade das pessoas que nem ainda me disseram adeus. Escondo-me dentro das lembranças pra que eu possa mantê-las aqui, já que nem tudo eu posso. Desnecessária saudade antecipada, se nem mesmo posso me conter dela, procurei me afugentar em outros pensamentos, mas que tentativas mais inúteis essas as minhas de tentar disfarçar minha tristeza, se meu sorriso já nem é o mesmo, nem a minha motivação, realmente, que falta estúpida vão me fazer, que espaço vão me deixar, espaço que não será ocupado por mais ninguém, exagero? Exagero seria não amar tanto assim, as pessoas, e que pessoas, e que causadores de dor. Se ao menos conseguisse controlar minhas lembranças, mas se são vozes, e sensações, imagens reais, se nem mesmo consigo me desconcentrar da dor, não posso nem imaginar depois, quando acordar e não vir mais ninguém ao meu lado vai ser fatal, e idiota, saudades, de quem já me machucam, mas apesar a dor, do que nunca tê-los conhecido.
Estou o fruto dessa dor: um amor, ou do amor, essa dor, mas antes essa sensação vazia, do que nunca tê-los amado assim, tão especiais meus causadores de angústia. E dilaceram profundamente meu coração sem ao menos virem como ele está agora, se arrependeriam desse erro, sem ser ele uma falha, porque na realidade quem sofre sou eu, meu amor, e minha dor, e minh’alma e minha vida...
São a tortura amável dos meus dias !

Marcella Casari

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sexta-feira, 11 de abril de 2008

Texto Vitória

“Tem ainda uma foto sua em meu mural, está presa com um ímã em forma de estrela. Na foto você era bem pequena, lá pelos dois anos de idade, está sentada sobre uma grama bem verdinha, embaixo da sombra de uma árvore, segurando com a mão direita uma bola de tamanho média alaranjada, está com marcas de suor no corpo, e o rosto todo molhado pelo excesso do sol, pelo jeito já estaria cansada de tanto brincar”.

Era o que estava escrito no bilhete que Marília escrevera para Vilma. Com uma letra bem firme, porém borrada com um pouco do suco de laranja que derramou sem querer sobre o papel assim que puxou a bolsa que estava bem ao lado com toda força, o impacto foi suficiente para apenas gotejar um pouco do líquido sobre o que estava em branco na folha. Marília dobrou cuidadosamente o papel, também pelo carinho, mas pelo nojo de ficar com as mãos meladas. Colocou o bilhete dentro do bolso esquerdo da calça jeans surrada e mal-lavada pela lavanderia do bairro onde mora.
Sinceramente entregar o bilhete naquele estado, era patético, pensou Marília, mas estava com pressa, e decerto Vilma entenderia. Quis reescreve-lo, mas não pôde.
Estava sem carro aquela manhã, teve que andar a pé; e estava frio, o vento gelado cortava sua pele, fazendo-a tremular os dentes, suas mãos estavam bem geladas e suas unhas estavam começando a ficar bem roxeadas, sua boca estava praticamente inteira cortada, e sentia dores nas articulações. O escritório onde trabalha Vilma não fica muito longe de onde trabalha, mas o suficiente para desejar estar num abrigo aquecido, do que na rua àquela hora da manhã.

Marília subiu pelo elevador até o andar onde fica o escritório de sua velha amiga, perguntou por ela para sua secretária, mas esta respondeu que Vilma estava em uma reunião, perguntou-lhe se esperaria, mas Marília negou, e pediu que lhe entregasse o bilhete, a secretária fez que sim com a cabeça, e se despediram. Marília sentiu, que talvez Vilma não entendesse o motivo do bilhete, escrito em uma folha de caderno, meio amassada, com algumas gotas, e ainda quem sabe, o aroma do suco de laranja que derramara aquela manhã sobre o papel deixado em cima da mesa da cozinha.
Provavelmente a ligaria mais tarde para lhe perguntar o porque, e que foto seria aquela, mas na realidade sentiu mesmo, que Vilma nem a questionaria por nada. Apesar de tão próximas, já não se viam há alguns meses, isso era muito tempo, considerando o laço de amizade tão antigo que as unia tão profundamente.
Marília não se concentrou no trabalho, deixou-se perder vários compromissos.

O sol estava forte quando Marília estava indo embora do trabalho, tirou a jaqueta de frio, deixou aparecer sua blusa branca, meio amarelada, e enfim sentiu vir à cor normal nas unhas, a boca mais natural, e o sol acariciava sua pele gentilmente. Desejava até continuar andando pela cidade, chegou a passar duas casas depois da sua. Sempre sorri quando o dia está quente, com um sol faiscante de tanto calor, era fim de tarde, mas para ela aquele pouco sol que inundava o fim do dia era magnífico, era como estar em um outro lugar, longe de qualquer problema, ou preocupações.
Deu meia volta, e pegou a chave da porta da casa, abriu-a com cuidado, para que não fizesse rangido algum, foi incrível ver a quantidade de cartas que havia no chão, encarou com atenção um envelope em especial, ele era grande e branco, com adesivos coloridos que fechavam a abertura do envelope; fechou a porta, trancou-a, sentou-se no chão, pegou o envelope e foi olhar direto ao remetente, era de Vilma.
Ficou estarrecida com a surpresa, Vilma não somente leu o bilhete que Marília deixara como a respondeu, e com todo o carinho de mandar-lhe uma carta, o correio da cidade era veloz.
Leu a carta para si mesma, numa voz baixa, quase que muda, sussurrando palavras sim, outras simplesmente não, e deu um sorrisinho amargo. Era de felicidade apesar de não parecer, Vilma a estava convidando para um jantar na sua casa, na próxima sexta-feira, e pediu que levasse a foto, havia muitos agrados e elogios, promessas, e cumprimentos de uma amizade realmente eterna, nem mesmo a distância de estarem tão próximas uma da outra fez com que todo o tempo sem nenhuma vista fizesse morrer algo tão puro. Vilma deixou bem claro que em sua casa estaria, ela mesma, Marília, Ísis, Rafaela e Marina, era como um encontro muito mais do que obrigatório, era mesmo uma carência de verdadeiras amigas.
E já fazia anos que não se viam, todas as cinco, e eram meninas ainda quando se conheceram, umas mudaram de cidade, outras de país, e Marília e Vilma na mesma cidade, mas parecia ser muito mais distante.

Marília acordou de outra forma. Com certeza mais disposta e alegre. Foi a sexta-feira de maior expectativa de toda a sua vida, jamais se sentira tão feliz. Tomou o café da manhã com um sorriso tão grande no rosto, que mal conseguia comer. O frio nem foi tão intenso assim, e na realidade parecia não haver frio algum na rua. No trabalho tudo certo, algumas broncas é claro, uma concentração meio falha nos seus afazeres, mas nada tão bom. Voltou pra casa, estava até mais radiante do que o sol, que enfim se escondeu atrás do horizonte, e Marília lhe agradeceu o calor mais feliz de todo aquele ano. Teve vontade de chegar antes do horário combinado, ficou pronta tão rapidamente que até mesmo, quando finalmente parou para pensar em toda aquela situação, ficou perplexa. Estava bonita, com o cabelo solto, com lápis bem delicado contornando os olhos, uma blusa verde com detalhes em prateado, uma calça jeans dessa vez bem lavada, um scarpin preto, com a costura de linha verde. Estava definitivamente pronta.

A casa de Vilma sim era muito longe da de Marília. Teve que de alguma forma apressar o trabalho do mecânico que cuidava do seu carro havia dois dias. Por mais desesperador que tivesse sido toda a espera até a resposta do final do mecânico, ele lhe devolveu o carro em perfeito estado. Marília não quis levar a bolsa, guardou a chave de casa no porta-luvas do carro e foi. Fazia tempo que não passeava pela cidade, não via há muito, a padaria do seu Joaquim, a locadora. Foi praticamente uma viajem, que deu tempo pra refletir, e pensar em como contar as novidades, em como dizer como é no seu trabalho, como anda a sua vida, estava mesmo é se preparando para não chorar. {...}

Marcella Casari

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Olhos Fechados

Os olhos fechados que se fazem assim de propósito, apenas para disfarçar, apenas enganam um outro coração calado e pequeno, aquele que vive dentro de você, e que me fascina sendo desconhecido; as vezes sinto, que as vezes sei, que quem sabe ele mesmo pensa bem sobre mim. Que mesmo longe, nós estamos pertos, e cada vez meu mundo abre as portas pra ti, e você nem se dá conta de tamanha afeição. Toco-te o cabelo com as pontas dos meus dedos, eles desmancham seu penteado, te fazendo parecer atrapalhado, é um desajeitado casual. Mas um desajeitado inconveniente ousando pensar que mesmo tão óbvio o meu amor é raro, é tão verdade, e sabe que meu amor é esse, que te bate à porta do coração e te importuna manhãs e noites seguidas, e como um birrento malicioso tranca qualquer meio de se entrar nessa vida pacata e deliciosa que envolve seus dias, e que dias, passa. O valor de tudo se perdeu, e sabe muito bem o quão valioso é, sabe que do amor importuno existe algum coração que te consola.


Marcella Casari

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quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sem nome ainda

Mais um texto sem nome, esse eu queria mesmo que fosse meu livro, a princípio tive muitas idéias, mas elas logo falharam, decepicionei-me, mas enfim, este aqui é o começo de mais uma história sem fim:

Foi de repente quando eu decidi que seria melhor esquecer de muita coisa. Foi ai então que eu fechei a porta do quarto com cuidado, esperando talvez que ela não me deixasse ir embora. Catei as malas que estavam no sofá da sala, e fechei a última porta que havia para se fechar, tranquei-a e joguei a chave por debaixo dela. Segui pelo corredor mal-iluminado do prédio, cabisbaixo, se ao menos tivéssemos discutido, quem sabe me sentiria mais aliviado de tamanho arrependimento. Mas agora não havia sentimento algum que me fizesse voltar atrás, abrir as portas, descansar ao lado dela.
Estava fatigado. O dia no trabalho foi penoso, cheio de coisas para fazer, broncas intermináveis que tive que escutar devido ao meu atraso, telefones que zumbiram o tempo todo, o lanche que não deu tempo para comer, estava ainda faminto. Entrei no carro, deixei as malas no banco traseiro, coloquei as mãos no volante e num suspiro quase aliviado percebi que não tinha para onde ir. Ela estava dormindo ainda, quando sai.Liguei o motor quase implorando para que ele não falhasse, e não falhou. Segui por ruas que conhecia muito bem, e por outras que nem sabia que existiam. Pensei em Pedro, talvez ele tivesse como me ajudar naquele momento.


Marcella Casari

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quarta-feira, 26 de março de 2008

Fernanda



Poderia apenas mentir.
Trancar-me longe do seu sofrimento,
e negar que me preocupo com o seu bem-estar.
Poderia não lhe desejar sorrisos, abraços, carinhos.
E simplesmente passar por ti, e não encara-la
frente a frente.

Nada do que eu dissesse transformaria o ocorrido.
Minhas palavras se tornariam vãs.
Mas quem sabe um dia, você se lembraria delas.
Poderia não ter te abraçado, e meu silêncio
talvez a tenha machucado. Mas foi a melhor
coisa que eu poderia ter dito.

Minhas lágrimas brotaram enquanto
louvei a Deus, mas elas se mantiveram comigo.
Não necessitaria de mais um punhado
de tristeza perto da sua.
Poderia não ter estado contigo, mas
o que faria da ânsia de tentar ajuda-la?

Sei que não fiz muito, talvez não
tenha feito nada. Mas do que me
valeria a distância de ti?
Fui sincera como jamais
cri, que poderia ser,
e contigo.
Pode haver, talvez, uma descrença.
Mas Há Deus, e há agora um anjo!
“É um anjo lindo que está cuidando da gente”.


Marcella Casari

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sábado, 22 de março de 2008

Memória

Dias de quinta-feira visito a casa do meu pai. E a todo momento que lá estou relembro que mantenho ainda presa em minha memória lembranças de um passado junto dele.
Há muitos anos; faz muitas tardes que ele, com seus passos de um homem que preza, guiava-me lentamente por uma estradinha de terra que daria à escola. Era eu pequena e miúda, perto do homem que me conduzia segurando a minha mão; passava-me segurança, e o medo que sentia de deixa-lo partir sem mim; colocava-me portão adentro e me dizia adeus.
Choramingava sem receio de ouvir a bronca de que estar ali na “escolinha” era o melhor a se fazer. Muitas vezes o convenci de que voltar para casa e espera-lo vir do trabalho me faria bem. Meu dom de persuadi-lo estava sempre apto à falhas, e ainda assim imaginava ser esse o meu plano infalível. Muitas vezes meu antigo sorriso de menina o confundia, perdendo-se entre a bondade e o dever para comigo.
Não passei muito tempo a espera-lo dentro de casa voltar do serviço; o tempo mudou e o levou dali para sempre, agora ele vive aonde em dias de quinta-feira posso visitar.


Marcella Casari

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segunda-feira, 10 de março de 2008

Sem Nome 2

Roubei teu coração de forma explícita. Com a cara amarrada embaixo do travesseiro, eu surgia pra você nos teus sonhos. E era óbvio. Prantos abafados no travesseiro, na cama, em quartos de dormir com a luz apagada. Como se em cada lágrima fosse esquecida de vez, cada riso enrugado com o tempo. Do riso mais amargo, ao pranto mais doce, sabor de lágrimas que partem corações, de saudade, agonia e desespero. Mutuamente agindo, como se não houvesse mais nada a dizer. Sonhos transgredidos de espaço. Imaginações se tornariam fúteis com o menor esforço que fosse concentrado.


Marcella Casari

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sábado, 8 de março de 2008

Catarina

Catarina foi a última a sair do mercado aquela noite; a rua estava escura e Paulo se ofereceu para acompanhá-la, o rapaz trancou a porta do estabelecimento, e guiou-a por aquela rua perdida. Os dois são amigos de infância, viveram juntos na cidade de Cosmópolis e dali em diante sempre mantiveram a amizade. Nina como gosta de ser chamada, mora uma rua acima a de Paulo, sempre são vistos juntos, mas negam qualquer motivo de suspeita, Catarina, é ainda apaixonada por Carlos, irmão mais velho de Paulo, pai de Isabela sua filha, mas Carlos se foi, não foi a morte quem o levou, mas a motivação de uma liberdade.

Nina abriu a porta, uma casa pequena, onde cada cômodo foi decorado apenas com o necessário, tudo sempre no seu lugar, uma organização invejável e que faz a casa parecer imensa. Isabela foi correndo até a calçada cumprimentar Paulo, adorado por ela; ele deu-lhe um abraço bem forte, abraço que sempre recebe dele, somente dele; perguntou à menina como foi seu dia, e como todos os outros, seu sorriso disse tudo, a voz não lha foi dada naquele instante, nem naquele nem em qualquer outro, a menina diz com as mãos que Deus a fez sem voz. Paulo na despedida deu um beijo nas faces das duas meninas, e foi embora, amanhã é um novo dia, e o trabalho não espera a preguiça.
Nina, guardou os sabonetes e as toalhas que comprou, pôs a menina na cama, deu-lhe um beijo e a viu adormecer bem levemente. Isabela é menina abençoada, Deus a criou sem voz, mas a fez forte o bastante para suportar, e sua beleza não se iguala a qualquer tonalidade que ela pudesse ter.

O dia amanheceu bem; Nina foi acordar Isabela, e depois foi preparar um café para beber; Isabela não come nada de manhã, se o fizer fica indisposta, e incapaz de sorrir, sorriso cobiçado pela mãe, a mulher precisa do ânimo. A mãe apronta a menina para a escola, e lá a deixa com a dívida de ir busca-la, as 3h15. Nina volta pra casa e sem desejar derrama seu pranto, suas lágrimas são de dor, pega um lenço e se enxuga, lava a face com a água fria da pia do banheiro e se seca com a toalha nova.
Catarina trabalha como diarista, o dia tirou de folga, sentiu necessidade e marcou uma consulta com seu cardiologista. Reclamou de dores fortes no peito, seu coração parecia querer explodir, e pontadas como se estivesse sendo esfaqueada a fazia sentir falta de ar, tudo num mesmo lugar, bem no centro do peito; os exames, não a fez satisfeita, a declaração final, foi uma saúde perfeita, sem motivos graves de preocupação, apenas a necessidade de se manter calma, mas Nina se considera calma, sem preocupações, a não ser a saudade do infeliz que a abandonou à 7 anos.

Nina cumpre a dívida e vai buscar a menina na escola, como sempre nunca atrasada. Isabela vem andando com calma, seus pés descalços não lhe permitem ir mais rápido, Isabela gosta de sentir o chão, são poucos os instantes em que deixa os sapatos cobrirem seus pés.
Já em casa Nina olha em seu relógio de pulso e vai até a varanda, eram cinco horas da tarde e a vizinha estava saindo; a vizinha sai de casa todos os dias às 5 horas da tarde; Nina não sabe se volta, só sabe que a vê sair, sair sempre sozinha, sempre de carro. Isabela reclama, sua língua de sinais falha quando está nervosa, mas isso motiva ainda mais a mãe para entende-la, Isabela pede a mãe para que a leve para seguirem a mulher, Isa quer entender. Nina nega, não há necessidade em bisbilhotar a vida alheia, Isabela começa a chorar, Nina não resiste e sai atrás da vizinha, já era tarde, não sabiam mais onde ela estava, ou por que rua subiu, ou se desceu. Isabela se contenta e pede para ler o livro que a mãe lê, Nina o entrega e se angustia bem depois que a menina sai, Catarina se pergunta, sente-se curiosa pela vida alheia, foi sua única vez, até então nem percebera que sempre estava à varanda quando a mulher saia de casa.

O dia seguinte foi mais ou menos igual ao anterior, tirando o fato de que Nina não foi ao médico e que transformou sua folga em umas férias de quinze dias.
Fez seu itinerário, e as cinco da tarde foi com Isabela seguir a mulher, Nina sentia fortes pontadas no peito, mas quando a menina lhe perguntava o que havia, a mãe não dizia nada. Catarina e a filha viram a mulher descer do carro e entrar em uma casa, o lugar não era muito longe, mas era cheio de árvores, o que facilitou para que Catarina escondesse o carro atrás de um ipê.
Nina espera por vinte minutos e comenta que desiste e decide ir embora, Isabela não deixa, e lotada de lágrimas nos olhos, cutuca o braço da mãe, e sem fazer gesto algum, a mãe logo como de reação olha para frente e vê a sua vizinha abraçada com um homem alto, magro, de cabelos castanhos e olhos esverdeado, Nina sente seu coração flamejando, não era um homem qualquer, era Carlos. Nina e Isabela, afugentam-se em lágrimas vertentes e frias, a mãe perde o fôlego, Isabela a vê desmaiar, desce do carro, e sem poder berrar, vai até o homem, o puxa com toda força do mundo até o carro, Carlos recua, mas Isabela o convence, o homem reconhece o olhar da menina.
Quando chega no carro encontra Nina e não sabe o que dizer, pois sem saber falar com a menina, não sabe se desculpar. Leva Catarina ao hospital; a jovem falece no meio do caminho, Isabela percebeu a ausência da mãe, sentiu partir o coração. É chamado um médico, e ele dá o atestado, declarando, morte devido a um tumor maligno instalado no coração.
Isabela se irrita do mundo, perde a mãe, e conhece o pai que passava as tardes com a sua vizinha, a ira da menina era como a de uma mulher, estava perdida, mas sabendo que ficaria com Carlos.
A vizinha saía ver meu pai, Isabela pôde escrever em um lenço de papel que lhe deram para enxugar seu pranto.


Marcella Casari

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sexta-feira, 7 de março de 2008

O mel pé de acerola (19/09/07)

Faz mais de anos, que no quintal da minha casa se plantou uma árvore de presente; nasceu no primeiro dia da primavera, a menina e a árvore de acerola; foi de aniversário a aniversário de minha irmã, neste mesmo dia, que brotou um pé de fruta, a primavera, e uma menina. Tão doce é a fruta, que se parece com ela, e tem o apelido de Mel que ainda chega ao paladar de quem a chama, aos berros pela casa. Sacudindo vinha a menina, ia lavar no tanque a fruta pra comer, com o pouco cuidado se lambuzava, e levava junto disso, as primas e a irmã. Faz pouco tempo que lá a árvore já não há, e faz falta o seu sabor. Era a marca registrada de um nascimento, da menina que já cresceu, e hoje sente saudade de ir lá se divertir. É ela minha irmã, que nasceu assim, no primeiro dia da primavera ‘da graça’ de mil novecentos e noventa e quatro, e até hoje faz recordar da árvore vizinha ao seu quarto. Sente falta do cheiro e de ter a sua idade, não comemorava sozinha mais um ano de sua vida, vinha a árvore e estação do ano mais bonita. Deus já a fez assim, doce como a fruta, com apelido de coisa de açúcar, ligada e interligada a natureza, que é tua paixão.O meu pé de acerola que já foi seu, que é de Deus, que é você.


Marcella Casari

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quinta-feira, 6 de março de 2008

Desconhecido

Por mais hipócrita que pareça, cada linha da minha vida segue teu destino, ironizando em profundos suspiros o que meu mais singelo gesto poderia demonstrar, fazendo com que todas as minhas palavras sigam um mesmo rumo, como se em cada sorriso teu meu mundo se perdesse, mesmo que minhas palavras o tentassem concertar. E mesmo que abrisse meu coração você não poderia vê-lo, com tua voz mesmo que oculta, com teu olhar mesmo que observador. Em minha memória guardo o fardo de senti-lo mesmo que distante, sendo quase que uma dor, saber que sabes, e que ao mesmo tempo não sabeis de nada. Perdendo o fôlego diante do que isso possa demonstrar diante de tudo o que possa parecer tudo isso.

Marcella Casari

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Texto Isabela


A gente era pequenininha, de um tamanho exato não memorável. A gente corria, a gente brincava, era a nossa vez de der criança. Tudo aquilo é passado e ficou lá, e aqui também, não é só o local que mantém nossas recordações, é um mundo quase que inteiro. Houve risos, ah se houve risos, gargalhadas borbulhantes e festas inesquecíveis. Festas suas de aniversário, noites hilariantes dançando ao som de uma boa música, eram seus dias. E na escola, ponto exato de criar amigos, amizades vem e vão e aquele lugar continua com o seu cargo. Lá nos conhecemos, fizemos brotar uma amizade e nem podia dizer que tempo ia durar. Há pouca gente pra contar a nossa história, em tanto tempo, é tanta amizade. Fazemos parte de um grupo finito, somos cinco corações entrelaçados por carinho. Cinco corpos sempre assim, saboreando a amizade de te ter confidente. Somos aventureiras de peripécias amigáveis, somos amigas de tempo, do tempo ligeiro. Fazíamos encontros caseiros com pipocas espalhadas pelos colchões, um bom filme e a falta de sono. Tantas bobeiras engraçadas que você dizia, ríamos sem saber do que e porque você não desistia mesmo vendo que aquilo já havia perdido a graça; dentro de um quarto ou até mesmo na sala, as madrugadas se faziam nossas companheiras e o sono, inimigo. Já houve prantos, lágrimas e reconciliações, contigo já troquei palavras fáceis e a difícil inclinação de discutirmos, por ti derramei lágrimas com um fundo musical inquestionável, pois eu sei que você adora. As semanas se fizera meses e os meses se transformaram em anos, anos de lances alucinantes; e meus pés que seguiam o caminho da tua casa, dias contigo, já com você, sua mão decorou o meu número, minutos e mais minutos trocando vozes sem se ver, o telefone que se tivesse boca, falaria mais do que lhe cabe. Abraços, apertos de mão e beijos, gestos que simbolizam a fé jamais perdida, mesmo tudo dito no passado, o que se faz é o presente, o presente de te amar, amiga minha..


Marcella Casari

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quarta-feira, 5 de março de 2008

Algo bom

Talvez você seja a última das minhas certezas, e a que mais me faz sentir dúvida. Sinto como se fosse culpada de erros que não cometi, ou então que fiz, apenas pela nossa ingenuidade. Sua força de razão sempre questionou os meus sentimentos, pondo em dúvida as certezas que eu te dava, e sempre arranjei uma forma de falar a verdade. Não sei se seria errado pedir, mas se fosse, agradeceria? Nunca soube ser muito sincera diante dos meus sentimentos, e quando estou ao seu lado, minha boca diz as verdades mais obscuras e inquietas que havia dentro de meu ser. Não temo, não nego o amor que hoje sinto, o amor que talvez sempre senti, mas que nas esquinas da vida, soube me enganar. A gente tem pouco tempo, pra ter certeza do amor que nos une a distância. Não posso nem como provar, tudo isso. Mas soube da vida que me reserva algo bom, creio no amanhã, que responde as perguntas de ontem, e tira o hoje, pra pensar.

Marcella Casari

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De perto

Dentro de cada sorriso teu as vezes eu prendo os segundos. Como se o tempo acelerado, fosse sucumbido, mantendo teu melhor eternamente comigo. Que em cada riso teu, eu suspiro e amo. Quando me prende em teus braços dentro de um abraço, o mundo parece a nosso favor, fazendo cada parte de nós dois sermos um único, não mais só. Se em cada passo teu eu pudesse desviar pra mim, estaria comigo, minha companhia. Não veria mais o dia sem o brilho do teu olhar, e quando viesse a noite, velaria teu sono, encabulado em meus braços, sorrindo ou sonhando. Perto. Sempre próximo da maneira mais inevitável de ser feliz.


Marcella Casari

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