terça-feira, 30 de junho de 2009

A Verdade

Deus. Alegria maior de toda a minha vida. Sem Deus, não teria vida, não teria eu não teria ele nem amor, se Ele próprio já é o amor, ainda insistimos em outros, mas só porque isso vem da vontade Dele, amar o próximo como a nós mesmo, e Ele sobre todas as coisas. Além do mais difícil, o amor por Ele ainda tem que ser maior, e nunca foi tão fácil amar assim. Do meu amado eu não espero nada, meus desejos se esvaem, e me realizo nas vontades do Amor Maior, e mesmo assim o amo, mesmo que não mereça, e comparo esse amor pequeno com o que Jesus Cristo sente por nós, não, não tem a menor semelhança, mas vem do Mesmo. Se a alegria que sinto em ao menos me imaginar com ele me faz bem, tal desejo de proximidade vem de um caráter sincero que me trouxe a verdadeira significação do que é mesmo amar alguém. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Muitos dias ainda eu hei de amá-lo. Mas isso não me impede de não me ver longe desse amor, sei que Deus tem para mim algo concreto, que se realize, como um sonho. Se todas as coisas o Senhor pode me prover, que medo eu teria de amá-lo, sem a certeza absoluta de tê-lo um dia? Não tenho medo, de não serem os meus sonhos os que serão realizados, já que vem de Deus toda a minha alegria. Na verdade, todo o sabor do desejo não se compara com a ânsia de saber que a cada dia mais o amor verdadeiro me ama, e isso me basta. Tudo naquele homem me encanta, suas contradições e sua beleza não conveniente, mas de tudo e sobre tudo, me deixaria feliz sim, ser um amor concreto, de verdade, mas de Deus vem a minha alegria, e a minha felicidade vem dos seus sonhos.

Marcella Casari

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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fragmento

Estou completamente ausente. Ausente de corpo, e meu corpo não tem nada a oferecer. Sou praticamente um cadáver, que jaz dentro de si próprio, e nem ao menos você estava lá. Eu o quis quando ainda estava aqui e na realidade, você é ainda meu desejo mais abundante, mas não suporto, se estou ausente, desejar quem ainda se faz presente. Não sou o corpo que deseja, nem a alma calma que almeja. Sou um par de olhos perdidos, uma boca vazia e um pedaço de nada, um nada que queria ser tudo e mais um pouco do seu nada.
Vim de ontem pra hoje diferente e longe, quis estar longe e estou. Quis ficar perto e não fui, fui tola e apaixonada. Fui boba e agora, ausente sua.

Marcella Casari

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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Surto

Dormia só e consigo mesma repensava neblinas de incertezas. Ouvia batidas na porta do quarto e passos esmagantes no corredor, acendia e apagava a luz do abajur, mas no fim não era nada. Dramatizava seus sonhos com mímicas na frente do espelho e contava pra sua própria alma seus devaneios de mulher apaixonada. Deliciava-se com as palavras que desejava dizer à ele, e isso consumia e entristecia. Mas nem lágrimas brotaram dela, nem a alma deslizava, nem surtos apareciam.
Partindo a lua, com despedidas ofegantes, surgiu o sol. No passado, e mais amarelo que o pó facial envelhecido na penteadeira. Seu amor não é mais o mesmo, e a pessoa que fascinava seu coração desmaiou e faliu. Não acabou como muito pensou, e nem faleceu, mas caiu de um penhasco, e ela mesma quem o derrubou de lá. Mas ainda vive e respira o mesmo ar que o dela, ou respirava outro.

Marcella Casari

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terça-feira, 16 de junho de 2009

Caixa de papelão

Tô perdida dentro de uma caixa de papelão jogada na esquina da minha casa, tô tão perto de sair daqui que me esquivo da luz do sol. Não fui eu que me prendi, mas seu sonho se escondeu de mim. A lua me cobriu também, assim como o sol que queimou minha pele. A caixa é verde, completamente verde, de verde subindo e descendo, de verde do lado e do outro, é tão óbvio que eu caiba aqui dentro, se aqui mesmo foi você quem me pôs, deixando um pouco de ar no meu pulmão e um copo de suco de laranja. Tudo tentou entrar aqui comigo, mas não cabe, eu já avisei, que nem meu sonho entrou comigo, e a minha saudade, aquela gorda saudade, eu joguei fora, deve estar aqui do lado, vai ver é ela quem bate na fresta pra tentar entrar, eu estou presa sua tonta, não sei mais me libertar, e ela não entende, tenta me morder pelas beiradas, me consumir de dentro pra fora, ah saudade, vai longe que aqui não dá mais não. A caixa é apertadinha, que não trouxe nem um carinho, o carinho daquele rapaz, ah que rapaz, não veio comigo não, não cabe, se até a saudade eu joguei pra lá, um abraço? Ah esse eu levo comigo no peito, que tá carregado, cheio, cheio de você, cheio de tanto precisar de você.


Marcella Casari

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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sonho

Estávamos sentados em cadeiras de madeira, cadeiras duras e desconfortáveis, numa esquina movimentada, pessoas iam e viam, não dava nem para distingui-las. Nem seu rosto era tão claro assim, eu via, mas não sabia quem, mas no fundo era você ou mais ninguém. Ficamos ali, um tempo indeterminado, jogando conversa fora, e trocando palavras as vezes doces as vezes ásperas, mas não se machucou. Eu sai meio ferida, não me lembro com qual frase, mas sai dali meio abatida, sem nos despedirmos nem nada, e eu já estava com tantas saudades de você. Bom, quero ser sincera ao máximo, e não, não foi uma frase dura, foi doce, e até demais, doce e inebriante. Mas dali eu fui pra casa. Nós brigamos, foi isso, eu briguei, briguei comigo mesma e com você por dentro, mas você não me ouvia e até isso me doeu, e você deve imaginar o quanto, me desmanchei inúmeras vezes pra te alertar "sua amizade é importante pra mim, mas você vai embora, eu sei, todos vão".

Marcella Casari

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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dia doze de Junho

Esses dias ainda acabam comigo, excesso de frio, falta de pessoas. Não de corpos agasalhados, mas de pessoas, mesmo que mal vestidas mas que estejam perto de mim, pelo menos quando não parecer que preciso.
Eu preciso que me amem quando eu estiver indisposta e cansada, preciso de um abraço quando estiver brava e um beijo se cuspir palavras rudes. Eu quero mais almas e não simplesmente corpos vazios e inconvenientes, eu quero quando ninguém mais quiser, eu amo quando ninguém mais ama.
Não, eu não me satisfaço mais com amigos virtuais que se acolhem com minhas palavras doces ou sinceras. Quero ser amarga, rude, chata e ainda assim gostarem de mim. Eu quero quem eu gosto gostando de mim, eu só preciso que gostem de mim. De você, eu preciso que você goste de mim. Isso me basta, e ainda assim, eu sinto muito frio.

Marcella Casari

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terça-feira, 9 de junho de 2009

Lua, segunda-feira

Eu persistia e me enterrava de corpo e alma. Eu persistia e me enterrava de admiração. Há um globo brilhante e soturno pregado no céu, donde clareia luzes apagadas e suspiros entediados, envolvi-me de admirá-lo e nunca estivemos tão próximos como na noite de hoje. Não descrevo um casal apaixonado no parque da cidade, nem uma mãe amamentando o filho na sacada de sua casa, não estive perto de outro coração como aquele que parecia tilintar por entre as nuvens vindo da própria lua. E não me envergonho ser mais uma a dizer sobre ela, umas palavras azedas porém belas, umas frases secas porém sinceras.
Acredito no poder do céu, já que a própria lua é mais uma invenção de Deus para nos olhar. Para olharmos, aquietarmos dentro de nossas próprias almas e assim como foi, ouvir o tilintar de um coração, vindo de um corpo que nem corpo é. Minha vontade de pregar-me junto dela, não me torna mais uma lunática nem apaixonada, mas sincera e quem sabe verdadeira amante, tanto de sua própria beleza exalada em seu brilho, como nos pensamentos que me causa, ao pregar os olhos e já não saber mais onde estou, de me tapar os ouvidos somente pra ela, e meu tempo já não se cabe no relógio, a própria noite sucumbi o meu amor, o nosso amor, que a própria lua desconhece ser minha, já que pra ser sincera, é meu.

Marcella Casari

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terça-feira, 2 de junho de 2009

Um senhor cinza

O inverno pintou o céu de cores acinzentadas. E não eram as nuvens manchadas de poluição, nem o oxigênio escasso de nossos pulmões. Foi o próprio inverno cheio de si que trouxe cores tão iguais, temperatura tão baixa, calor tão vazio, necessidade de folga.
O vento gélido varria de nossos corpos o calor, a insanidade, o desejo, e abria espaço para o cansaço, a proximidade e a união, tanto de corpos como de almas, tanto de amigos como de amores. Até as árvores tremiam com sua presença, um frio sublime e constante de queimar as pontas dos dedos, de cortar a boca, a face, a audácia.
O inverno doeu quando chegou, assim de repente, e perdura para mostrar sua falta de gentileza, sua inimizade com o sol, seu amor e carinho para conosco. Pois é ele quem mais nos une, une corpos com necessidade de calor, sendo que no verão corpos não se misturam, não se desejam tanto, a proximidade queimava, ardia, como se o próprio sol estivesse ali, e no frio, e no frio do inverno um corpo não sabe viver sem outro.
O calor humano que mais verdadeiramente aquece e acalma, cobiçando o sol que dantes negavam. O homem que reclama da presença do sol, da ausência, do calor, do frio, agora abraça outro corpo, outra pessoa, um amigo, um parente, um amor.
Olham pro mesmo céu, com outras cores, com outros olhos, com outro sorriso. E no fim sempre agradecem, pelo frio que une, pelo calor que separa, pelas flores que admiram, pelo outono, sem flores, sem frio, sem calor.

Marcella Casari

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