sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dezoito anos com carinha de quinze

Não me pergunte como é ter dezoito anos. Eu ainda não precisei desembolsar meu RG da carteira e apresentá-lo a alguém que duvidasse disso. Continuo com meus um metro e cinquenta e tantos centímetros, a mesma cor de cabelo (só que agora mais liso), a mesma frescura pra andar de salto, a mesma falta de apetite pra bebidas alcoólicas, a mesma aversão a cigarro, os mesmo óculos, o mesmo gosto (paixão) por verde, o mesmo sorriso e os mesmos costumes de sempre.
Só imagine a diferença de acordar com a aquela “buzinação” e questionamentos de como é ser maior de idade. Tem o mesmo gosto de quando fiz quinze anos, e realmente em números não faz tanto tempo, mas na cabeça das pessoas parece que foi a uma eternidade. Tem a mesma sensação só que com uma carga a mais de responsabilidade. A (as) faculdade (faculdades) do ano que vem e como diria um amigo meu agora “você pode fazer... quer dizer, dirigir”. E essa piadinha interna dá um gostinho mais refrescante, “não me leve a mal Pedro”.
Mas todo o dia vinte e seis foi repleto de sensações novas, como se o meu aniversário fosse alguma data importante que todos tivesse que lembrar. Mas ao mesmo tempo parecia que as pessoas que me viam caminhando na rua sabiam que aquela não era uma simples segunda-feira de muito calor. As mulheres e homens me olhavam com cara de quem notou alguma diferença, mas eu entrei no supermercado me olhei no espelho antes de comer um pedaço de bolo e vi a mesma pessoa de ontem, só que com outra roupa. As pessoas viam em mim o que eu não sentia. E ainda não sinto, apesar de que já mudei meu ano de nascimento no orkut, ta lá 1991, pode conferir, agora eu não preciso mais mentir.

Marcella Casari

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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mau Humor. (Parte II)

Eita!!!! Ela foi mesmo. Toda emburrada. hahahahahahahahahaaaa........ Essa sem vergonha ainda ver o que é bom pra tosse dela. Vê se pode vim me chamar de safado. Faz infeliz, burro, grosso. Na cara do gol e ainda erra?!!! Vai chutar a sua mãe!!!!!!! Pega outra cerveja pra mim, e anda logo!!!. Ah é, caramba ela saiu. Nem pra estar aqui pra pegar um cerveja presta. Olha só, poxa vida viu. Nem pra lavar a louça da janta presta. Acho que até bicho preguiça trabalha mais do que ela. Saco! Começou o segundo tempo? Ufa, ainda não. Começa logo TV idiota, que demora!!! É, apesar que ela... Ela nada. Se segura na tua ai meu. Qual é vai deixar ela montar cavalo em você agora? Você já fez a burrada de dizer sim no altar. Vai ficar se lamentando agora? Aleluia!!! Começou o segundo tempo. Cadê essa infeliz que não chega? Gol! Gol!!!! Gooooooooooooooolllllllllllllllllllllllllllllllll!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! UUUHhhhhhhuuuuuuuu!!!!!! Olha. Chegou. Não podia ter chegado em melhor hora. Vem aqui. Veja que lance lindo. show de bola. Só podia se brasileiro!!!! Senta aqui. Quero você. Anda, senta logo caramba. Parece uma mula empacada. Acho que você está precisando tomar umas vitaminas, porque anda lerda de mais, pelo amor!! Que bom, pras suas amiguinhas você usa o perfume que dei de aniversário né?! Agora pra mim, mal passa desodorante. Que foi? Está achando ruim eu falar a verdade? Pensando bem, fica aí. Eu vou dormir. Boa noite! Ah, fica assim não. Estou de mal humor hoje.

Fernando Augusto Marcelino

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Meu Bobo

Talvez se eu não relevasse seus atrasos quando eu perco a cabeça de saudade, eu ainda mentisse. Eu te amei da primeira voz que saiu da sua boca e da primeira vez que seus olhos colidiram com os meus, eu vou logo avisando que aquilo tudo era pra ser. Eu te amei quando quis te ver e não pude, quando pude e não quis. Eu te amo quando as poucas pessoas ao nosso redor sabem disso e quando as minhas palavras se escondem dentro da boca pra não sentirem a saudade das suas. Eu te amo quando o despertador toca e a música que toca me lembra você, e até quando me esqueço de acordar. Eu te amo quando diz que sou chata, porque eu sou mesmo e você acaba fechando os olhos pra isso. Eu admiro você. Eu amo o seu sorriso, e as entradas pra sua boca, amo os cartões de visitas que são as suas mãos quietas quando fala comigo. Eu amo a sua respiração, o seu suor, o seu esforço. Eu amo as perguntas sem resposta, as caminhadas das suas pernas, sua força de vontade. Eu amo os cantos das suas unhas, os seus dedos, seus braços erguidos, você de pé, sentado. Eu te amo quando se esconde de mim. Eu amo quando tenta disfarçar e me engana muito bem, quando suas palavras tentam ser mais severas do que as minhas. Eu te amo quando eu te machuco e ainda assim me reserva tempo. Eu te admiro. Eu te amo quando seus sonhos são bizarros e amo ainda a sua coragem pra realizá-los. Eu amo a sua determinação. Eu te amo quando sinto sua falta e vejo a sua foto no meu celular, ah sim, eu te amo quando não vejo. Eu amo a sua dedicatória no meu livro, amos os "textos assassinos". Eu te amo quando diz que não me ama. Provavelmente eu te amaria do mesmo jeito. Eu te amo quando estou disposta a passar o resto da minha vida do seu lado e amo ainda mais quando sei que não será sempre tudo bem. Eu te amo quando penso que terá dias em que eu serei a última das mulheres pra você, e você vai gritar, e você vai me odiar, não vai mais me desejar e ainda assim depois de um tempo o mesmo amor do final de semana vai estar estampado na minha cara e o seu sorriso surgirá pra me pegar no colo. Eu te amo quando as pessoas olham estranho, suspeitando. Eu amo quando usa aquela camiseta preta e olha pra mim quando não pode. Eu amo seus elogios. Eu te amo independente do amor. Eu te amo quando considerar errado amar. Eu te amo quando for proibido, quando me deixarem, quando você quiser e principalmente quando não quiser e precisar. Quem sabe você precise do meu amor tanto quanto eu preciso te amar.

Marcella Casari

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Confissão

Muitas vezes eu me sinto totalmente perdida. Mas solidão não chega a me assolar, deixando-me sem esperança, sem uma luz no fim do tunel. Muitas vezes eu caminho degavar, pra ver se analiso bem os passos que deixo pra trás, pra não me arrepender de nenhuma curva. Eu só sei que muitas vezes esse meu silêncio me priva de muitas vezes descarregar por ai, grande parte de uma carga que eu não precisaria necessariamente carregar. Tem tanta coisa minha que eu preferia que nem fosse. Mas, provavelmente, não, com absoluta certeza, graças a Deus, eu aprendi a ver o quão desimportantes eram as curvas do meu caminho, percebi que mesmo se estivesse sozinha, no escuro, eu saberia reconhecer quantos passos seria necessário pra passar por qualquer caminho, mesmo se o chão me parecesse um pouco áspero e me reservasse, quem sabe, um belo tombo pela frente. Ainda assim, já sei que cair, pra me levantar depois é mais que necessário, pra que eu aprenda que, não é tudo, sempre, um mar de rosas.
Mesmo assim, eu ando com medo, com as mãos dentro dos bolsos traseiros da minha calça jeans, e me esqueço que se tira-las daquele aperto e erguê-las aos céus, esse medo se esquiva de mim e a verdaderia luz abre caminho pros meus passos; mesmo que andasse descalço, numa rua escura, deserta, ainda assim não estaria sozinha. Não confio apenas no que meus olhos dizem pra mim, e isso me fez toda a diferença. Eu fiz dos meus pensamentos, pontes. Dos meus sonhos, vontade. Sou muito nova, pra ter o que reclamar, muitas vezes me disse "Mas Marcella, será que não percebe o quanto isso é pouco? Se enxerga? E o que Jesus fez/faz por você? Isso não é mais importante?", e no meio dessa divagação, eu calço os meus sapatos, tiro as mãos dos bolsos e ergo-as aos céus, e enquanto liberto minhas palavras, as lágrimas salgadas chegam doces à minha boca, como sinal de realização; porque por mais que eu esteja ali, há sempre comigo mãos prontas a me levantar, quando eu desço ao chão reclamando um tanto, eu sempre sinto que vou caminhar mais outro tanto.

Marcella Casari


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Frase de saudade

Eu acredito apenas nas minhas frases emaranhadas no seu peito, camufladas nos seus cabelos, escondidas sobre a sua roupa. Você deixa em mim aquele gosto doce de suco de laranja com o bolo do café da manhã, ah, eu peço sempre a Deus pra me deixar daquele jeito, pronta pra ser a razão do seu sorriso. Eu acabo querendo sempre converter as minhas palavras ásperas por outras mais lisas e que se encaixam melhor com as suas, não vou deixar seu dia ruim terminar pior .

Marcella Casari

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sábado, 17 de outubro de 2009

Mau Humor

Vai se catar. Vai ver se eu estou lá na esquina. Não enche vai. Que coisa, me esquece pelo menos por agora, por daqui uma hora ou até a noite. Vai cuidar do seu gato. Se você está bonita? Não brinca. Vai se olhar no espelho. Ou não tem espelho aqui em casa? Esse cabelo mal arrumado, penteado de qualquer jeito, parece um nino de pardal em que se fez uma festa have. Um lixo. Cadê seu gato? Não está aqui? Foi embora? Que pena! Não sei aonde estava com a cabeça quando arrumei você, pior ainda quando disse sim no altar. Quanta cagada que eu fiz, meu Deus!! Pelo menos você me interessa a noite. Para ocupar espaço na cama você ainda serve. Te quero só a noite e boa! O quê? Não está bom? Você não faz nada o dia todo mesmo. O empregada aqui faz tudo pra dondoquinha. Vai, vai se arrumar vai. Para de me encher. Safado? Eu? Olha quem fala, sem vergonha. Folgada, até parece calça de ex gordo, sobra pra todo lado. Não me interessa, se você estiver aqui só a noite já está de ótimo tamanho. Vai lá ver as tranqueiras das suas amigas, você já tem cabeça firme mesmo, quem sabe elas te levem pra algum caminho melhor, que no final seja a morte.
Não vira as costas pra mim. Se não eu te acento a mão na cara. Cadê o vestido novo que te comprei? Ele te faz tão bonitinha. É melhor que esses trapos sujos que está usando. Você não tem vergonha de ser tão mulambenta? Agora sai daqui. Quero assistir o jogo. Pelo menos isso me dá prazer.

Fernando Augusto Marcelino

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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O gato

Eu fico morrendo de vontade de tirar a coleira prateada do seu gato, você não percebe que o cara é macho e quer um pouco mais de liberdade pra te mostrar isso. Você não liga porque não é você que fica escutando o miado dele toda a madrugada, quando a luz do poste não me deixa mais dormir e o Filé (o gato) fica miando feito louco pra gata da vizinha que nem dá moral pra ele. E não é atôa. Coleira prateada com detalhes rosa não é pouca coisa. Eu fico morrendo de vontade de juntar aqueles dois gatos bem em cima da sua cama, só quando eu não estiver mais dormindo no seu quarto e nem sentindo o seu cheiro de manhã, pra que você veja que o Filé não é nenhum filhote e ele quer ser macho com a gata da vizinha. Eu tenho dó dele, você nem cuida, sou eu que sempre tenho que por ração e trocar a água dele, porque se depender do seu bom senso, beber água com uma camada grossa de gordura por cima é super normal, você acaba nem reparando que eu molhei todo o box do banheiro e que deixei a minha calcinha pendurada, aquela, vermelha que você detesta, você nem ouve mais meus roncos. Eu fico com pena da gata da vizinha que duvida do sexo do seu gato, ela pronta pra vê-lo, e o Filé com aquela coleira gay, que me dá aflição, ainda mais quando ele passa por entre as minhas pernas quando eu tô tentando dormir do seu lado, e ele tenta te empurrar de mim e você não acorda pra colocá-lo de volta no chão, sou eu que sempre faço isso e nem volto mais a dormir, você nem liga, porque seu eu tô na sua cama não foi pra dormir. E eu fico tentando imaginar o porque o Filé não te pediu um pouco mais de atenção, miar pra mim não vale, eu só tenho dó. E você dormindo de barriga pra baixo, nem escutando o miado do gato bem em cima das suas costas.

Marcella Casari


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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Frase de bom humor

Hoje, de bom humor, eu confesso que já me perdi nas linhas de expressão do seu rosto, no contorno que as suas bochechas fazem nos cantos da sua boca, quando você sorri aquele sorriso que pensa que me engana, porque na verdade você está choramingando por dentro. As curvas sinuosas que cobrem seu rosto, mostrando que o tempo passa, passa deslizando da sua testa para o queixo, dos ombros para as mãos, da cintura até as pontas dos dedos dos pés. As marcas de anos no canto do seu olho direito me impulsionam, eu pisco de volta e você se esconde no mais brando sorriso, ah, como me acalma as curvas que se formam quando fala comigo. E como é boa a sua cara de sono domingo de manhã, sua voz rouca, seus olhos cansados do sábado a noite.

Marcella Casari

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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sorriso

O pior de tudo foi perceber tarde demais que o meu sorriso era falso. Eu só sorria mesmo em fotos de família, quando aquele parente distante que nem sabe meu nome, diz “xiiiis”, esperando que num ato de reflexo eu bote na cara o sorriso mais escondido e chato que estava dentro de mim, causando impacto, porque no fim a foto fica um horror. Eu posso até rir em outras situações, mas cubro com a mão, escondo, não queira ver meus dentes pedindo licença pra aparecer. Só mesmo o rapaz, aquele rapaz que não deixa minha mão cobrir meu sorriso, e nem precisa me dizer “xis” pra que eu abra a boca e revele todos os meus dentes, a textura dos meus lábios, a cor da minha língua, a minha voz mais ambígua e indecente. Mas é só aquele rapaz, só ele. E o mais engraçado é que ele faz sem querer, ele sorri, e vem por baixo do pano, secretamente, convidar a minha boca pra rir também, ela toda oferecida, não desrespeita e sorri. Mesmo ali o sorriso é falso, não de mentira, porque pra ele eu não minto. Mas é falso. Ele diz que tem graça, que é lindo, mas não confie muito quando o amor da sua vida diz elogios demais, a maior parte ele só enxerga por estar apaixonado, depois a verdade aparece, ou não. Dou risada de nervosa, só do corpo dele estar a centímetros do meu, eu reparo nas mãos, na camiseta que ele está usando, no tênis, na calça, no zíper da calça, no cabelo, nos óculos, nas unhas, nos pelos da nuca, na barba ou na falta dela, no bico que ele faz quando fala, nos dentes quando ele sorri. Porque assim eu sorrio sem parar, pareço quadro, o rosto fica imóvel, e ele nem percebe, que perto dele, eu fico extasiada, nervosa, sou outra mulher, a dele, e ele nem sabe que me disse “xis” pra que eu não parasse mais de estar ali, sorrindo o meu sorriso amante.

Marcella Casari

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Bar da esquina

Vai ou não encher esse copo cara? Logo! Não tá me ouvindo não? Eu disse LOGO. Inferno. Aqui ninguém ouve nada. Não, não, tá bom já, para, não tá vendo que tá vazando, saco. Não, eu não vou parar de beber não, para, me deixa em paz, não ta percebendo que todo mundo quer que eu fique aqui, larga a minha mão muleque insuportável. Você é insuportável sabia? Você com esses dois diamantes lapidados no meio da cara, essa boca carnuda que dá vontade de beijar. Mas não se sinta o mais valorizado dos homens. Eu sinto muito mais o gosto dessa cerveja dentro do meu copo, do que você dentro do meu quarto. Você vale os berros que eu dou aqui e ninguém ouve. E para, me deixa aqui vai, ouve a música, tá tão bom, me dá seu colo vai, deixa eu deitar em você, mas não me leva daqui não. Ow garçon, eu quero mais, não percebeu que meu copo tá vazio? Cara, para de ser chato, não quero ir embora, não tá vendo? Han? Que eu to aqui pra te ver melhor? Pensa bem, eu tô aqui em baixo, deitada no seu colo, e você ainda fica reclamando da vida, pelo amor, você é um chato, um.. chato.
Me leva pra casa Carlos?

Marcella Casari

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Jardim de inverno

Deixe-me envolver na grama molhada do seu jardim, até que minha roupa branca transforme de cor e meus cabelos secos tornem-se imundos. Eu prometo cuidar bem das suas flores, seus girassóis de plástico na varanda. Deixe-me procurar por aquela sua camiseta mal-passada, com o teu perfume, me deixa vesti-la no corpo, desfilar pela casa sendo você, quando não está comigo, estando com você. Eu juro cortar o mal pela raiz, limpar toda a sujeira que deixar pra trás, varrer bem a sala de visitas, arrumar a sua cama, dobrar e guardar o edredom dentro do guarda-roupa, deixe-me cuidar do seu jardim. Fique comigo quando eu pedir licença, venha correndo me abraçar quando, se por alguma acaso, eu proferir palavras rudes que rasguem seu coração, deixe-me curá-lo já, das dores que possivelmente eu possa te causar, deixe-me com a mão na tua mão pra atravessarmos a rua ou subirmos as escadas. Deixe-me regar seu girassol de plástico, deixa a água escorrer pelas pétalas. Deixe a cama desarrumada, o copo sujo dentro da pia, a cara amassada pra me desejar bom dia, a mão suada pra pegar na minha. Venha quando estiver de mal-humor, quando seu time perder o campeonato, quando sua rotina cansar, venha quando estiver tudo bem e mesmo se não estiver. Deixe um pouco do seu peso na beirada da cama. Deixe-me beijar tuas feridas, cuidar do teu ânimo, da sua tristeza, deixa-me secar as tuas lágrimas antes que elas caiam, venha quando não precisar de mim pra nada. Deixe-me envolver nos teus lençóis verdes os meus sorrisos misturados com os seus, deixa a minha boca convidar a tua pra rir também, teu ânimo no final do meu dia, deixa a despedida pra nunca mais acontecer.

Marcella Casari

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domingo, 4 de outubro de 2009

Frase

Isso é coisa de moça apaixonada, Erica. Disse minha mãe um dia, enquanto eu fechava a porta da sala segurando nos braços, bem apertado no meu peito, um presente pra ele. E nem era dia de nada. Era só porque era ele. E ninguém mais.

Marcella Casari

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Em primeiro lugar me deixaram sozinho, perto de uma folha de papel e um lápis. Em segundo lugar, não deveriam ter feito isso, ou deveriam, sem isso eu não estaria escrevendo mais umas palavras pra que qualquer um lesse, e devem ler, deveriam. Se estou aqui trancado deixo escorrer essa sinceridade por entre as minhas mãos, o suor fedorento de homem, preso, sufocado, a solidão me deixa esse cheiro insuportável, as unhas sujas, o calor. Estou deixando a folha molhar, minha letra borrar, minhas palavras sumirem. Agora eu não ligo se está dia ou se está noite, daqui a pouco a luz dessa vela morre e fica tudo igual. Eu tô sem relógio, e daí, não sei ver as horas. Tô sem tênis, e daí, não tenho pra onde ir. Eu tô sem escova de dente, e daí, não tenho o que comer. Não se compadeça do meu sofrimento, não há sofrimento algum, ao menos enquando minhas mãos úmidas percorrerem essas linhas, e eu deixo bem claro, esqueci de deixar comida pro cachorro, tá ali dentro do armário da cozinha, bem no fundo. Falta-me ar, estou mergulhado em meu próprio rio, inundado, coberto de água, água que escorre no corpo, do meu corpo pro chão, o vento que vem da fresta da porta arrepia meus pêlos, um suspiro, um ar, uma pausa para descansar as mãos, a saudade, a melancolia jazendo comigo. Não deixem a janela fechada por muito tempo. Mas não precisam abrir a porta (...)

Marcella Casari

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Nunca duvide disso

Quando seu sorriso simplifica meu dia, será que você sabe o valor que ele tem? É assim que a vida recria mais um valor, contigo ao meu lado. E são poucos os instantes que compartilho sorrisos, e abraços, mas são estes os verdadeiros, nunca duvide disso. A verdade se baseia na intensidade com que ocorre um sentimento, não são os anos, mas os segundos que fazem a nossa amizade crescer, e sim, ela aumenta a cada dia, e nem todos os anos que estive com outros tem o mesmo valor que o pouco que já estivemos juntas, nunca duvide disso.
Você sabe o valor destas palavras, dentro do meu coração? Quero que esta importância seja a mesma pra ti, sim, eu preciso que saiba, que ninguém pode mudar o que o tempo está fazendo com a gente, com a nossa amizade, com você, minha amiga. E se lembra daquele dia especial? E houve tal dia especial? Não, pois são todos iguais, com o mesmo valor, e de mesma importância. Sim, nunca duvide disso. Pois nem que os dias passem mais rápidos, nem que as noites pareçam jamais acabar, muitos dias irão nascer, e eu serei o sol, que te quer bem, sempre.

Marcella Casari
(texto velho, perdido, e reencontrado, e que tava me matando de saudades)

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Sete e meia

Eu não esperava descartar os amores que passaram pelos meus dedos, eu não esperava que fossem assim, tão fugazes e sem gosto algum. Eu não esperava por alguém que me abrisse a porta do carro, que me elogiasse até pelo que não sou, que confiasse na minha falta de coragem, que pusesse os pés ao meu lado e me erguesse do chão, realmente, eu não esperava por um homem que me pusesse na cara vontades mais explícitas, de sonhos mais concretos, de abraços, de beijos, de jantares a luz de velas, de romantismos antigos, de lembranças numa caixa, de memória, de datas marcadas numa folha de papel, de presentes, de amores mais perenes, de amor mais perene, duradouro.

Marcella Casari

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