O cheiro da roupa de cama recém lavada e posta sobre os pés de Sophia me fizerem lembrar do primeiro riso de bom dia que escutei sair dos seus lábios, o caminho suave que percorreu até meu ouvido, tilintando o prazer de tê-la ao meu lado. Nem é mais o mesmo sabão em pó, mas o cheiro é tão parecido que ela ainda sorri do mesmo jeito, apoiando o rosto sobre as mãos, fechando firmemente os olhos e me revelando todos os dentes brancos, apesar de ainda nem ter saído da cama pra escová-los, linda como sempre. Linda com o pijama descascado com o tempo e os cabelos bagunçados mal ajeitados atrás das orelhas. Ainda me lembro do receio que ela tinha de que eu a visse sem maquiagem, mas eu já sabia do contorno dos olhos dela, dos poucos cílios que o adornavam, do castanho escuro que vinha escorrido da pupila preta, os cantos bem puxados, acentuando esse ar exótico que expandia meu dia de alegria. A verdade é que ela sempre foi a razão do bom dia ser verdadeiramente um bom dia, e do boa noite ainda ser boa noite depois de um dia inteiro de trabalho, cansado, exausto, sujo, fedido. E ela vem com as mãos ainda úmidas de saudade contornar meu pescoço e sussurrar no ouvido o quanto ela me ama e perguntar como foi meu dia, e eu com a pele suja do meu suor me permitia mesclar com a saudade dela do meu cheiro, pra que o cheiro dela me fizesse lembrar do motivo dos meus dias. Como se o riso dela caminhando e contornando a minha cabeça já não fosse suficiente. Se já não fossem os lábios molhados, a língua mordida no canto da boca e os olhos dela confundindo os meus, os olhos dela confundindo-se com os meus.
E não me importa o tempo que passou, a poeira por sobre a cômoda do quarto, nem o vidro mal colocado sobre a mesa de centro da sala. O importante é o estado conjugal que nos encontramos agora. Totalmente mergulhados e ensopados até as pontas de tanto amor, e não aquele amor vazio, repentino, que mexe com o sexo e não com o coração, é aquele amor que causa amor, que sofre amor, que respira amor, amor por si só, independente de ausência ou presença, de beijos ou de brigas. Não é simplesmente estar casado e viver dessa comunhão, é um estado, é outro verbo, o verbo ser, verbo de ligação tanto quanto estar, mas com nós mais firmes, não nós que prendem, que murcham, mas nós de sentimento, nós de carinho, de beijos, de abraços e cafunés estendidos até a madrugada.
Ela nunca gostou muito das minhas brincadeirinhas, sempre que dizia a ela que não a amava mais ou que a letra dela é feia ou então pra ela me dizer quando não gostasse mais de mim. Ela sempre se sentia insegura quando minhas palavras a invadiam de medos e incertezas, mal sabia ela o tamanho do meu amor. Mas nunca deixei de amá-la. E ainda amo, apesar do vento que enruga a minha pele e do gosto ser sempre azedo ao passar pela minha garganta. Mas eu nunca me importei mesmo, se a comida tinha mais ou menos sal, ou se o doce não era doce. Os lábios dela contornando a minha boca de saliva mexiam com toda a percepção de sabores da minha língua, eu já não podia sentir o gosto de mais nada, só o sabor indecifrável da boca dela mordendo a minha, a boca seca com saudade da dela. E ela não pode ficar longe de mim por muito tempo. No começo achamos que íamos enjoar de tanto grude, mas a nossa liberdade tinha saudade de ficar junto, de por os braços em volta um do corpo do outro. Ela ainda diz baixinho no meu ouvido, Eu te amo, Lucas! E eu ainda sinto o mesmo arrepio na nuca toda vez que o calor da boca dela encontra os pelos do meu pescoço e desmancha minha coragem em uma vontade louca de tê-la ainda mais perto.
Não sei o que me dói mais. Se, são os beliscões que ela está me dando agora enquanto digito essas palavras meladas de carinho, ou a saudade que sempre me dá das mãos dela acariciando meus dedos indicadores, ou dos dedos dela brincando com a minha boca, com a minha língua. Ela nem imagina a sensação de paz que encontro em meio a selva dos dedos dela percorrendo meus inúmeros caminhos, minhas trilhas. É marcante a saudade que ela sente de mim, Chega a ser hipócrita tamanho egoísmo que ela sente, tamanha possessão, mas eu sempre fui loucamente apaixonado por todo esse egocentrismo que exige de mim a presença mais próxima, a distância mais próxima, o carinho mais próximo, os beijos mais próximos, as discussões mais próximas. No início sentia-me um pouco sufocado quando os braços dela não me deixavam partir quando eu tinha que partir, ou quando eu precisava do meu tempo comigo mesmo, sem mulher, sem nada, só meus pensamentos, minhas divagações. Ela nunca tolerou minha ausência estar do lado dela, quando o que ela mais precisava era de mim. E eu nunca precisei dela, eu apenas quis, e quero, e vou querer. Ainda as cócegas que ela me dá liberando da minha boca os risos e sorrisos prediletos dela, e o mais bonito é ela rir de volta, aceitar meu convite de viver uma vida lado a lado e não sozinhos. Jamais. E é esse ponto que quero discutir, contar, revelar. Talvez nossas vidas pareçam simplesmente Lucas para Sophia e Sophia para Lucas, mas o amor que somos não vem de nós..
Marcella Casari
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Amor de partida
Não, não desaparece não. Não diz que vai embora e realmente vai. Eu deixei escancarada a porta do meu coração pra ver se você trazia logo as suas manias e desejos pra dentro de mim, mas o que você fez foi fechar a cara e a porta da minha sala. Eu não estava pronta pra dizer adeus, e quando você disse que ia sumir pra que eu nunca mais te visse, ah, eu tive vontade de pular no seu pescoço, talvez assim você percebesse que eu estava mentindo. Que não, na verdade eu não gosto muito dos seus braços, eles tem duas temperaturas, um lado mais quente, mais você, e perto das suas mãos, é frio e eu sempre me sinto mais desprotegida assim, quando você não me abraça por inteiro. E outra, eu não gosto dos seus olhos, eles sempre estão atrás dos seus óculos e eu nunca consigo enxergá-los bem, é um egoísmo da sua parte fazer isso comigo, e eu nunca gostei muito do seu rosto lisinho, era bom quando você deixava uns pelos perdidos pela face pra encaixarem na minha boca, quando eu te beijava e você pedia pra eu não parar mais. Eu nunca gostei do seu sorriso, nunca, só quando eles eram meus, quando você os dava pra mim em troca de alguma declaração patética que no fim sempre nos fazia rir, e você deve estar pensando que eu gostava dos seus carinhos, mentira, a sua mão na minha pele me fazia sentir calafrios, os pelos me pediam licença pra se enrijecerem e eu nem boba nem nada, deixava, e desde quando esses sentimentos fazem bem a um ser humano saudável? Totalmente provido de bom senso e vergonha na cara. Quando você fechou a porta, fecharam-se meus poros, minha boca, minhas mãos, meus pés. Eu pedi pra você não ir embora, não me deixar trancada, você não imagina o quanto é difícil.
Marcella Casari
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Marcella Casari
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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Verão
A maneira como ela ainda mantinha as lacunas dos olhos abertas fez com que lágrimas brotassem ali e refrescassem a pele áspera de Sofia. De braços postos sobre a mesa, a cabeça recostada sobre as mãos frias traduziam com letras firmes o sentimento de dor que ela expunha pra fora da alma. Não tinha nem se quer um lenço de papel, simplesmente um copo vazio com o suor do líquido que o continha. A solidão combinava a salinidade das lágrimas com a madeira da mesa da cozinha. Seu desejo era expelir a dor e colocar no lugar um sorriso descartável pra mais tarde, quando quem sabe, Carlos mudasse de ideia e voltasse atrás.
Limpou a face com as costas das mão direita, suspirou fundo, ajeitou a roupa, o vestido florido que esquentava a pele, passou as mãos úmidas pelo cabelo e o prendeu com a presilha amarela, presa na barra do vestido, que incomodava o joelho.
Sofia tomou o banho mais demorado da semana, talvez do mês, colocou a melhor roupa da última compra que vez numa liquidação do shopping, derramou sobre a pele do pescoço e pulsos os restos do perfume francês que ganhara de natal de seu pai. Sentiu-se bela e sensual o suficiente para abalar as estruturas físicas e emocionais do único homem que punha pra fora a sinceridade de forma branda e cuidadosa, Carlos com certeza perdeu o juízo quando disse não mais amá-la.
Marcella Casari
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Limpou a face com as costas das mão direita, suspirou fundo, ajeitou a roupa, o vestido florido que esquentava a pele, passou as mãos úmidas pelo cabelo e o prendeu com a presilha amarela, presa na barra do vestido, que incomodava o joelho.
Sofia tomou o banho mais demorado da semana, talvez do mês, colocou a melhor roupa da última compra que vez numa liquidação do shopping, derramou sobre a pele do pescoço e pulsos os restos do perfume francês que ganhara de natal de seu pai. Sentiu-se bela e sensual o suficiente para abalar as estruturas físicas e emocionais do único homem que punha pra fora a sinceridade de forma branda e cuidadosa, Carlos com certeza perdeu o juízo quando disse não mais amá-la.
Marcella Casari
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ps: te amo (o mau humor passou)
E a verdade é que afinal das contas, eu não tinha nada a perder apostando em você. É mesmo. Você com esse jeito simples de levantar os óculos com as pontas dos dedos não podia fazer muito por mim mesmo, não que eu quisesse muito, mas me faz falta a sua presença do meu lado, quando eu tô em casa estudando, estudando, estudando, e não tem ninguém pra me fazer carinho me pedindo pra parar um pouco e nem pra me preparar alguma coisa pra comer. Acho que quando meti os olhos em você eu não tinha ideia do quanto isso ia me fazer bem, eu não considerava muito que daquele mato podia sair coelho. Mas se é você que me faz acordar de manhã cedo e enfrentar a vida, como eu poderia continuar duvidando que suas mãos grandes, seus braços quentes poderiam ser pouco perto da minha estatura? Eu não estava é pronta pra tanto amor, isso sim. Eu queria mais é que você me dispensasse e me trocasse por essa que passa todas as noites com você, ah, mas eu sinto uma inveja dela, mas não fica com ela não, eu já acredito em super-herói.
"Me deixa morrer de saudade, vai, só não me deixa.."
Marcella Casari
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"Me deixa morrer de saudade, vai, só não me deixa.."
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