sábado, 16 de maio de 2009

Mais uma sem fim

Virando a esquina da avenida com a rua principal encontra-se um barzinho de meia tigela, azul petróleo e despedaçado que sempre lota de sexta-feira a noite. Fica cheio de pessoas vazias que procuram encher-se de algum prazer não solúvel em água, que dure algumas horas e demonstre em atitudes esdrúxulas um sorrisinho e um choro na madrugada. São homens na sua maioria, de meia idade e quase calvos que buscam a noite um pouco da alegria que não encontraram durante o dia, e se esvaem de tantas alucinações. Porque são alucinações, sensações falsas e imediatas. São uns imbecis.
Tudo combinava naquelas pessoas, o aroma sufocante do cigarro recentemente aceso, os lábios molhados da bebida, a roupa suja do trabalho, o suor, a conversa fiada, a mulher ou namorada deixada em casa. Uma combinação perfeita de incrédulos. Naquele mesmo antro se perdiam algumas mulheres que já não tinham vida própria, nem certidão de nascimento. Uns diziam que se perderam ali mesmo naquela esquina, outros diziam que eram apenas mulheres que pareciam mais jazer naquele estabelecimento. Outras vinham atrás de seus homens, e ali ninguém era dono de ninguém.
O bar nem era tão feio, nem tão fétido quanto prometia seus produtos internos, era popular e se localizava no centro da cidade, e até isso o tornou atrativo a homens fatigados. Um punhado de pessoas se reunia ali para se desviarem do costume de serem certinhos, um beijo na boca de alguém desconhecido ali, um cigarro aqui, uma carícia desgovernada ali e tudo parecia normal. Até que se provasse o contrário, aquilo era normal, e as pessoas, certas.

Marcella Casari

Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Farrapo Humano

Joinville, dia 30 de abril de 2009,véspera de feriado, estou no ponto 2 da santos Dumont, em frente o bar do Cojaque esperando o sul/norte pra ir trabalhar. Percebo que algumas mulheres olham enojadas para alguém que se aproxima, olho, um andante para ao meu lado, minha cabeça se enche de preconceitos... O cheiro (que na verdade não tinha sentido), a loucura, os palavrões, as milhares de coisas que poderiam acontecer... Mas nada aconteceu, ele parecia não estar nem aí pra mim. Fiquei olhando de canto de olho temendo um contato direto que poderia chamar sua atenção. Eu estava esperto, ele carregava uma madeira nas mãos... E se ele resolver dar uma paulada na minha cabeça?! Ele ficou uns segundos olhando os carros passarem... A cada segundo do seu lado mais eu temia por uma reação agressiva, afinal, o que ele tinha a perder? A vida o tinha maltratado tanto, batido tanto naquele farrapo humano, torcido até tirar tudo de bom que ele tinha, se restou alguma coisa, foi a revolta... Dar uma paulada num cara arrumadinho que está indo trabalhar é justo, ou pelo menos, compreensivo. Enquanto minha cabeça estava cheia de pensamentos, aquele amontoado de roupas e sacos, aquela coisa, se virou na minha direção, pensei: Defendo a paulada com o braço esquerdo e dou um chute bem no meio do peito... Mas ele passou por mim e seguiu seu caminho, mas não sem antes olhar para mim e dizer, de uma maneira pura e verdadeira: – Boa tarde!
Foi como um soco no meu peito, como o chute violento que eu lhe dava em meus pensamentos... Antes ele tivesse me dado uma paulada. Aquela “coisa” se tornou um homem em frente aos meus olhos. Era um homem como eu, como você... E pra finalizar com um nocaute, um Zé Roela passou de carro gritou alguma coisa não sei se pra ele mais sei que não deu pra entender, ele olhou para o sol e disse sorrindo:
– Ele não sabe... O sol brilha na nossa frente, temos que agradecer a Deus.
Aquela violência toda que se criou na minha mente se transformou em vergonha, a maior vergonha que já senti, eu era a “coisa”, mal conseguia olhar para as pessoas, mesmo ninguém sabendo o que acontecia nesse mundo dentro de mim, eu estava envergonhado.
Foi uma lição simples que aprendi... Às vezes a vida parece um filme, uma poesia. Logo em seguida o meu ônibus apontou, entrei e fui trabalhar. Agora viajando ouvindo Teatro Mágico, lembrei-me novamente do que aconteceu e resolvi escrever.
Essa historia aconteceu exatamente como está aqui... E continua acontecendo, em algum lugar.
by Lucas

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O Homem .

Eu perdi a conta de quantos conselhos joguei fora, assim como se limpa a coriza e joga o papel higiênico no cesto de lixo. Meu banheiro parece estar mais limpo do que a minha consciência. O cheiro do cigarro me incomoda, o azul na parede do seu quarto me enjoa, e sua camiseta marrom me envelhece. Nada do que é óbvio me motiva, e suas dicas eu não escuto. Eu me apaixonei desesperadamente e isso eu escondo muito bem, coloco à prova todas as suas teorias, e não me admira ser mais inteligente do que eu. Seu jeans velho e sua sandália estilo 'Jesus Cristo' não me expõe mais do que a sua beleza oculta e distante, eu te ouvia quando tinha tempo para perder me entristecendo. Não foram bem os seus conselhos que descartei, mas a minha falta de coragem em admitir. Admitir até que te admiro. Pareço-me confusa até diante do espelho, quando me incomodo ao ver que aquilo que se reflete ali não é bem o que você quer, e me desculpe por me preocupar tanto com o que pensa sobre mim. Não tem o rosto pálido, nem o cabelo liso, não usa óculos e gosta de ouvir músicas que nunca ouvi falar, mas até mesmo diante do cesto de lixo do meu banheiro eu me satisfaço em apenas jogar fora o que é necessário, provavelmente eu guarde você comigo.

Marcella Casari

domingo, 3 de maio de 2009

Eu quis mudar .

De ontem em Diante .

Valer a pena .

Tua graça me basta .

Milagre .

É verdade, eu sei .

Eu só preciso estar .

Eu gosto mesmo de você .

O certo é estar perto sem estar .