sexta-feira, 25 de maio de 2012

Queda

Ninguém gosta de cair. Porque cair machuca. Cair dói. Porque quando a gente cai as pessoas ficam olhando pra nós. E perguntando: como será que ela fez isso? Como? Ela não viu o que tinha no caminho? É que às vezes a gente não olha por onde anda. A gente simplesmente caminha, bela e esbelta, achando que tá tudo bem. Porque as vezes tá mesmo. Quando a gente cai, normalmente não tem ninguém pra segurar a nossa mão. Só tem os olhares e cochichos, risos irônicos. Vários pra acusar. Mas nenhum pra consolar. Às vezes dói tanto que a gente nem consegue voltar a andar. As vezes a gente cai pro lado errado e erra o caminho. Às vezes a gente se perde mesmo. E a gente sai mancando, com a calça rasgada no joelho, com o salto quebrado, com a bolsa suja, mas vai. Porque não dá pra ficar parado. Se ninguém serve pra te dar apoio de que vale se sentar na calçada e ver a vida passar dando risada de você?! Algumas vezes não dá. A coisa parece tão certa, o caminho parece tão bom, que a gente não vê as pedras, os galhos, o buraco. Tem vez que a companhia é ideal. Mas não serve pra prestar atenção no caminho. Não seve pra nos alertar. Não seve pra nos conduzir. Provavelmente quando você cair. Porque você vai. Ela vai rir também. Não vai aguentar e vai despencar em gargalhadas. Porque a gente vai cair. Tem gente vai querer te ajudar a continuar sentado. Mas tem gente que vai largar o filho sozinho com um estranho só pra poder te levantar. São esses esforços que a gente nunca vê as pessoas fazerem. Mas que a gente acredita que existe. Porque não dá pra acertar sem errar. Não dá pra se levantar sem cair. É preciso muita pedra, muito galho, muito buraco por ai pra gente aprender a dar valor nas coisas. Às vezes é preciso ralar o joelho na calçada e se apoiar na placa de trânsito. Só não deixe os buracos muito fundos te impedirem de ver a luz do sol. Porque a sombra que você vir será sempre de uma mão pronta pra te ajudar.



Marcella Casari
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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Da Isa

A gente nunca sabe quando nossas vidas vão mudar. Quando uma coisa simples deixa de ser simples e sozinha pra se tornar complexa e acompanhada. Você me fez sentir assim. Uma vez eu estava como quem vive a vida e deixa as coisas acontecerem. Eu comecei a me importar mais quando eu vi que você fazia toda a diferença. Me causou muito espanto. Me causa até hoje. A falta que você me faz. Eu não tenho palavras pra explicar. Ou talvez eu tenha. Mas eu fico tanto tempo pensando. Pensando em você. Que as vezes esqueço de mim. Se tornou tão natural. Respirar e procurar seu oxigênio por ai. Como se fosse possível encaixar um pouco mais de você no meu cotidiano. As vezes eu peço pra deus, pros astros ou pra seja lá quem for, que simplesmente cuide do meu amor. Porque uma vez, você não percebeu, mas eu coloquei meu coração bem no centro das suas mãos. Você o envolveu cuidadosamente. Eu me lembro disso. Não sei se você sabe. Não sei se você sabia que tinha tanto poder sobre mim. Talvez eu tivesse medo de confessar que a minha vida sem você não faria o menor sentido. Você me mostrou a trilha. As pegadas confiáveis. O caminho suave. A estrada iluminada. E eu não me canso de olhar pro lado e ver você procurando a minha mão pra gente andar junto. Porque é disso que eu tô falando. Eu tô falando dos nossos pés na mesma trilha. Na mesma lama. No mesmo rio. Nas mesmas pedras. Sem medo de reclamar. É assim que eu me sinto de vez em quando. Vai. Me mostra pra onde você quer que eu vá que eu vou. Eu simplesmente vou. Porque eu sei que você não vai mais a lugar nenhum sem mim. Eu sei que você sabe o que eu estou pensando. A gente combina tanto que eu me confundo com você. A gente sabe que pra tá perto não precisa tá junto. Mas que estar perto só precisa de nós. Nós bem fortes. 


Marcella Casari
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