terça-feira, 12 de abril de 2011

Frase e Fio

Por muito tempo eu concordei com a célebre frase: " Falar eu te amo é fácil!". Como se isso soasse como um bom dia, essa frase que a gente diz até pra quem a gente não conhece. Como se "eu te amo", fossem as palavras que, quando juntas, tomam o mesmo significado de quando queremos dizer que simplesmente "gostamos" de uma pessoa. E só naquele instante, em que provavelmente ela está fazendo algo que nos agrada. Ou seja, ela é empregada costumeiramente quando nosso ego sente-se massegeado o suficiente e essa frase se torna nosso "muito obrigado!".
Mas apesar de parecer tão fácil assim, eu discordo. Discordo porque quando dito assim, sem significado, o coração não envia mensagem nenhuma ao cérebro e este não expressa emoção nenhuma na fala, e assim "eu te amo" não vale de nada. Porque é diferente de quando sentimos o amor saindo da nossa boca e penetrando suavemente no ouvido da outra pessoa. Porque é como um fio, uma linha, que conecta o que eu estou dizendo com o que a outra pessoa está ouvindo. É claro que é a mesma coisa, mas é exatamente a mesma coisa. É o mesmo amor que sai da minha boca e preenche a outra pessoa. Não porque meu ego está inflamado demais, mas porque eu preciso me conectar a ela, eu preciso que essa pessoa esteja perto de mim o bastante, pra que ela perceba todo o processo que ocorre dentro de mim. Desde o coração que fabrica o amor, o seu percurso até o cérebro que empurra pra fora através da minha boca, a frase que já não cabe mais dentro do meu corpo.
É necessário que toda essa viagem aconteça dentro de mim, pra que todas as partes do meu ser sintam que dali uns instantes a frase mais importante da minha vida, vai sair, e vai levar a minha linha direto pra aquela pessoa, que faz esse processo se repetir todos os dias. Porque a partir do momento que a frase é dita, mas dita com sinceridade e valor, essa linha invisível, torna-se indissolúvel. Não é possível voltar atrás. E nós percebemos quando dizemos, e o outro percebe quando é verdade e quando é mentira. Porque pode ser mentira, e nem por isso é fácil de dizer. Quando mentimos, a linha percorre nossos órgãos, comprime nossos vasos sanguíneos, nos traz sensação de dor (mesmo que discreta), porque a a frase não quer realmente sair, não pra aquela pessoa, tavez não naquele momento. Quando é verdade, os órgãos também sentem, as veias também sentem, mas com diferença, sem dor, mas com um prazer indescritível, que esse sim, percorre todos os cantos do corpo e sai pela boca com cuidado.
Dizer "eu te amo!", não é apenas dizer, envolve muito mais do que isso. E só quem analisa esse processo todo, só quem sente um aperto bom no coração pode ter a certeza de que a linha saiu da sua boca e penetrou a pessoa certa, e que está indissoluvelmente conectada a você.

Marcella Casari
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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sem você

E se eu me desvincular de você? E se eu desatar os nós? E se de repente eu me afastar dos nossos momentos, e colocar os instantes mais preciosos de lado? E se eu resolver sair correndo, como você sempre me vê fazer? E se eu perder a memória dos nosso afetos e me ausentar dos seus sonhos? E se se eu perder a força nos dedos pra segurar os seus? E se eu deixar voar por ai algumas frases que eu só dizia pra você? E se a minha voz não tiver mais pra onde ir? E se meus pés se esquecerem de onde pisaram quando você estava do meu lado? E se eu me esquecer de como conjuga o verbo bobar? E se eu deixar de pensar em nós? E se eu me desapegar aos presentes?  E se eu deixar de ler os livros que você me deu? E se eu deixar no armário a caixnha de lembranças e trancar a porta e nunca mais abrir? E se eu pensar só em mim? Só em mim? E se eu deixar de me abrigar nos seus braços e deixar de confessar meus medos quando você em silêncio acaricia meus cabelos?  E se eu simplesmente me tornar autossuficiente, sem precisar de você, sem esperar por você, sme confiar em você, sem contar com você?

Marcella Casari
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Passagem

Definitivamente hoje não é um bom dia para se escrever sobre o primeiro dia do ano. A semana está quase acabando e eu ainda não quis comentar sobre dois mil e onze. Eu não ligo. Essa é a minha diferença em comparação ao resto do mundo. Eu não estava ansiosa e animada com a chegada do "Ano Novo". Criamos tantas expectativas de dois mil e nove pra dois mil e dez, não foi? E é claro que não nos decepcionamos tanto assim, mas, no meu caso, não foi nada excepcional que me causasse ansiedade e euforia com a passagem de um ano pra outro. As vezes minha cabeça fica focada em anos bem mais distantes e por pior que seja eu ainda terei que encarar o fim de dois mil e dez, dois mil e onze e mais alguns anos ainda. Honestamente eu me sentiria confortável se me deslocasse logo pro meu futuro de mulher formada em duas Universidades, trabalhando, ganhando bem, casada com um homem maravilhoso e rodeada de filhos. É nesse ano que eu estou querendo chegar. Eu preferia passar por dois mil e onze de olhos fechados e sem nenhuma dor. Mas as coisas não são bem assim. Já comecei o ano com o pé direito, já comi bastante chocolate, o vestido dos meus sonhos está rasgando, disse coisas chatas pro meu namorado, ouvi broncas até espanar e fazer brotar nos cantos dos olhos uma mina insaciável de água potável. Mas pelo menos estou lendo bastante, dormindo bastante, assistindo muito seriado, e não sentindo a mínima falta de assistir aulas, e ler livros grandes, e textos de muitas páginas, e fazer contas, e reuniões com grupos de seminário aos domingos a tarde, e gastar muito com passe de circular, com van, com xerox, com sola de sapato, com gravite, folhas, paciência, enfim. Toda bagagem típica de uma estudante universitária, ou melhor "bi-universitária" (eu posso inventar palavras). Eu gostaria que pelo menos dessa vez janeiro imitasse agosto e nos fizesse passar por ele com tanta preguiça e com tanta demora, que quem sabe eu ansiasse por fevereiro, quem sabe. Quem sabe eu me focasse no presente e parasse de falar besteira.



Marcella Casari 

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Dualismo Simbólico

Mulheres são como bombas-relógio. Qualquer coisa pode ser fatal demais a ponto de cutucá-la tão docemente e mesmo assim ser o ápice para que tudo se destrua completamente. Mulheres não calculam exatamente a proporção de suas palavras quando ditas aos berros de uma discussão. Elas simplesmente intensificam os sentimentos, pondo-os à flor da pele, exagerando ao por lágrimas em meio às frases. Mulheres não tem que ter motivo pra chorar, elas podem por pra fora as dores que guardam dentro de si e nenhuma palavra masculina pode sarar as feridas que eles mesmos não podem ver. Algumas mulheres apenas dominam seus sentimentos por aparência, mas internamente não veem a hora de despejar seus anseios de bandeja pra pessoa ao lado. Mulheres ouvem mulheres e conversam com a mesma língua, se entendem mesmo nunca tendo se visto antes. Elas similarizam as situações, são parecidas, feitas da mesma fôrma. Toda mulher sofre por antecipação e sofre mais do que nenhum ser no mundo inteiro. Não existe mulher que não descontrole suas emoções por qualquer motivo. Mulher é inconsequente, mas não pejorativamente, elas são indelicadas ás vezes com as palavras, dizem mil coisas quando uma seria suficiente. Sofrem, gritam e choram sem precisar de justificativa. Pois mulheres ficam pensando e revirando os pensamentos da cabeça em cima da cama pra tentar entender o porque certos homens são assim, porque fazem assim e se todos são assim. Porque se todos os homens são iguais, todas as mulheres não fogem da mesma ideia. Mulheres precisam ser cuidadas e levadas a sério mesmo quando suas palavras fogem da razão, mulher é cem porcento razão e cem porcento sentimento. E ainda assim é completa. Só existe lacuna dentro de uma mulher que vai ao longo da vida preenchendo com o que lhe convier pelo caminho. Mulher é um ser intenso que vive a procura do grande amor, alguém vai negar, mas isso logo falha. Mulher nenhuma está preparada a decepções e desencantamentos. Mulheres são fortes e fracas, preparadas e inexperientes (...)



Marcella Casari 

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