sexta-feira, 28 de maio de 2010

Perfil

Até a necessidade de andar de mãos dadas, tomou outro rumo e partiu daqui. Eu não entendo muito bem dessas coisas, mas tudo certamente tem alguma coisa a ver com o pessoal, com o íntimo, com a discreta parte de mim que é invisível aos olhos. Eu saio correndo atrás dessa necessidade, porque toda mulher sonha que seja assim. E ela volta porque sem essa parte eu não sou ninguém.


Uma mulher não precisa de razão para amar. O amor de uma mulher transcende a realidade visível. Ele paira no ar. Ele respira. Ele vive. O amor sai pelos poros da pele, nos cantos dos olhos, nos sorrisos, nas risadas, ele não justifica o sacrifício, ele não explica a saudade.
E isso homem nenhum pode ver.


O charme de uma mulher não envolve o homem. A mulher em si é que tem de envolvê-lo em seus mais discretos fios e gestos. Homens não são presos por palavras, mas correntes de afeto.


Não, mulheres não sabem disfarçar. Não ouse pedir a uma para que encolha dentro de si suas alegrias. Mulher é expositiva por natureza. Não disfarçará nunca um sorriso dentro da boca. A alegria lhe vaza pelos cantos.


E o melhor da vida é que um amor saber reconhecer o outro. É tão boa essa fase eterna de estar amando e ser amado, e não sentir pressa dos dias passarem. Nem sede, nem fome. É a alegria de um fazendo festa na vida do outro. É recíproca clara e estampada na cara. É amar e amar, e amar mais ainda.




Marcella Casari


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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Há um tempo


Não, não me dá liberdade não, senão eu falo mesmo, ah, parece que você veio aqui, destrancou uma porta que estava emperrada dentro de mim, pronta de desabar tudo, pra cair tudo em cima de você, seu bobo, por que você fez isso? Parece que não sabe o perigo que são as portas enferrujadas que estão dentro de mim. Eu não queria aproveitar essa oportunidade pra despejar tudo o que esta dentro dela, sei que é muita coisa, e pode não parecer, mas, estava tudo ajeitadinho ali dentro, uma organização impecável, eu levei tempo pra organizar, colocar cada um no seu devido lugar, eu não queria me aproveitar da sua bondade. É meio bobeira, é totalmente vai, totalmente bobeira, mas o que esperar de uma boba de dezessete anos que não sabe nem o vestibular que vai prestar no final do ano? Sabe o que mais me machuca? A minha única certeza ser você e ao mesmo tempo não ser. Eu tava super animadinha com esse negócio de Araraquara, mesmo, mas ai tem Londrina, é mais perto e eu posso morar com umas amigas minhas que também querem UEL. Eu to realmente com medo, bastante, eu não queria fazer uma faculdade agora, mas tudo, todos me levam a isso, EU TENHO QUE FAZER, nem que seja fema. Eu não queria, mas eu to me acostumando com isso, eu sou meio tontinha (não venha me dizer que você não sabe, porque você sabe que eu sou) e eu só consigo pensar em escrever, é uma inutilidade que me faz bem, bom, dá pra perceber porque ao invés de eu estar olhando nesses seus dois olhos maravilhosos que me conquistam a cada instante, eu estou aqui, no meu computador, ouvindo uma música do mundo, bem lenta, pra ver se as idéias fluem melhor, pra ver se dessa vez eu não te assusto tanto, como sempre. A faculdade me ajudaria sim nessa minha mania, com toda certeza, mas, todas as minhas amigas tão querendo morar em Marília, fazer famema, mas isso só daqui dois anos, e eu tenho que passar agora, esse ano, porque eu vou fazer 18 anos e elas não. Eu não sei exatas e me diz como eu passarei no vestibular assim? Se meu cérebro só consegue assimilar números de telefone? Eu só consigo estudar humanas, eu viajo em história e geografia e meu maior prazer é ficar resolvendo exercícios de português, mesmo que de 45 eu só acerte 36. Eu to morrendo de medo de não passar em nenhum vestibular, e a minha mãe já não ta querendo pagar a inscrição da UEL pra mim, e meu pai? Bom, ele não vai querer pagar. Que eu posso faze se a minha mãe quer que eu faça duas faculdades ao mesmo tempo? Que se exploda se de repente eu pirar na batatinha. Não, eu não quero ir pra uel pra ficar longe de você, eu quero é ficar perto de você, bastante, mas mesmo em Londrina ou em Araraquara você sabe que me tem nas mãos, seja lá o que isso signifique pra você. Eu to indo muito mal na escola. É muita coisa pra estudar de uma vez, pra um único dia. Quarta agora eu tenho simulado do enem, outro simulado do enem e nessa a minha nota conta, e conta muito, eu NÃO posso ir mal, não posso. Mas as coisas simplesmente fluem perfeitamente na sala de aula, é eu abrir a porta da sala, que tudo some da minha cabeça, e eu passo a tarde toda limpando a casa e quando eu tenho tempo pra estudar, eu tenho que jantar, tomar banho e qualquer outra coisa. Eu não consigo me desligar de muita coisa. Vai ver que é porque eu não quero, sei lá. Mas eu quero, não quero? Eu to com medo. Eu sou o medo de duas pernas vestido com roupa de mulher. Sou. Devo mesmo ser. Eu preciso muito de você, isso me agoniza e me irrita profundamente, muito, e eu fico super envergonhada com isso. Onde já se viu? Por que eu preciso de você? O certo é eu não precisar né? É eu ficar calma e linda assim como você fica. Eu sei que isso é o certo, mas ao mesmo tempo eu não consigo. Droga, você nem imagina o bem que você me faz, do seu lado, ah, do seu lado eu me sinto a melhor pessoa do mundo, como se nada pudesse me abalar, como se tudo fizesse sentido e valesse a pena, a pena que for. Eu sinto demais a sua falta e ao mesmo tempo eu quero provar pra todo mundo que eu não dependo de você, não dependo de você. É ridículo isso né? Não, pode rir, pode mesmo, rir bastante porque eu gosto de você rindo, ah, como eu gosto. É ridículo, parece filme, e isso é péssimo. É péssimo não é? Eu gostar tanto assim de você? Você me fazer esse bem danado? É péssimo não é? Eu nem imagino o que você vai pensar disso tudo, mas quando eu souber mentir pra você eu juro que vou mentir, enquanto isso você lê as minhas verdades enquanto não as pode ouvir.


Marcella Casari


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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Semana de Gripe

Estou gripada. Meu nariz parece um chafariz remendado de dor. Minha cabeça arde suplicando pela amoxicilina que acabou semana passada e o pior de tudo é que eu tive que tirar as luvas pra digitar. Há uns quinze minutos eu tomei um chocolate quente transbordando leite condensado e dessa vez eu não queimei a língua. Fiz pipoca na pipoqueira da minha mãe, o sal e o sazon foram parar no fundo do pote, e eu caçava e esfregava minha pipoca no tempero, mas não saia nada. Enquanto isso eu discutia com a minha irmã as cenas do filme. Eu precisava desses mimos de mulher vagabunda, que passa o dia inteiro dentro de casa, dormindo depois do almoço pra ver se encontra nos sonhos um ânimo mais conveniente pra me fazer abrir os livros e estudar que nem uma condenada. Hoje a tarde meu namorado me ligou e eu disse que mês que vem eu morro. Mas morro mesmo, as provas das faculdades vão coincidir e dessa vez a minha cabeça vai rachar mesmo. Não sei se é só a falta de coragem, não, acho que o frio também me faz mal. Atrofia meu cérebro, enruga minhas ideias, minimiza minha criatividade. Eu gosto de ficar enrolando na cama, fingindo que as preocupações se cansaram de mim e que pularam a janela do meu quarto, finalmente me deixando em paz. Mas ai outras vem pela fresta da porta, ou na sujeira do meu chinelo, ou saem da televisão, do rádio, do telefone, dos cadernos, dos livros, dos xerox, das canetas, das provas, das aulas..
Eu estou gripada poxa, as férias poderiam começar logo.
Ah, eu prometo que semestre que vem eu tomo coragem antes de ir pra(s) faculdade(s).


Marcella Casari
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terça-feira, 11 de maio de 2010

Menina - O Teatro Mágico




Já sonhei nossa roda gigante esconde -esconde em você
Já avisei todo ser da noite que eu vou cuidar de você
Vou contar historias dos dias depois de amanhã
Vou guardar tuas cores, tua primeira blusa de lã


Menina vou te guardar comigo
Menina vou te guardar comigo


Teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor
Tua água eu vou buscar na fonte teu passo eu já sei de cor
Sei nosso primeiro abraço, sei nossa primeira dor
Sei tua manhã mais bonita, nossa casinha de cobertor


Menina vou te casar comigo
Menina vou te casar comigo...Vou te guardar comigo


Sou teu gesto lindo
Sou teus pés
Sou quem olha você dormindo


O Menina guardo você comigo
Menina guardo você comigo


Nosso canto será o mais bonito Mi Fá Sol Lápis de cor
Nossa pausa será o nosso grito que a natureza mostrou
A gente é tão pequeno, gigante no coração
Quando a noite traz sereno a gente dorme num só colchão


Menina vou te sonhar comigo
Menina vou te sonhar comigo


Sou teu gesto lindo
Sou teus pés
Sou quem olha você dormindo


O Menina guardo você comigo
Menina guardo você comigo (2X)


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