sexta-feira, 8 de maio de 2009

Farrapo Humano

Joinville, dia 30 de abril de 2009,véspera de feriado, estou no ponto 2 da santos Dumont, em frente o bar do Cojaque esperando o sul/norte pra ir trabalhar. Percebo que algumas mulheres olham enojadas para alguém que se aproxima, olho, um andante para ao meu lado, minha cabeça se enche de preconceitos... O cheiro (que na verdade não tinha sentido), a loucura, os palavrões, as milhares de coisas que poderiam acontecer... Mas nada aconteceu, ele parecia não estar nem aí pra mim. Fiquei olhando de canto de olho temendo um contato direto que poderia chamar sua atenção. Eu estava esperto, ele carregava uma madeira nas mãos... E se ele resolver dar uma paulada na minha cabeça?! Ele ficou uns segundos olhando os carros passarem... A cada segundo do seu lado mais eu temia por uma reação agressiva, afinal, o que ele tinha a perder? A vida o tinha maltratado tanto, batido tanto naquele farrapo humano, torcido até tirar tudo de bom que ele tinha, se restou alguma coisa, foi a revolta... Dar uma paulada num cara arrumadinho que está indo trabalhar é justo, ou pelo menos, compreensivo. Enquanto minha cabeça estava cheia de pensamentos, aquele amontoado de roupas e sacos, aquela coisa, se virou na minha direção, pensei: Defendo a paulada com o braço esquerdo e dou um chute bem no meio do peito... Mas ele passou por mim e seguiu seu caminho, mas não sem antes olhar para mim e dizer, de uma maneira pura e verdadeira: – Boa tarde!
Foi como um soco no meu peito, como o chute violento que eu lhe dava em meus pensamentos... Antes ele tivesse me dado uma paulada. Aquela “coisa” se tornou um homem em frente aos meus olhos. Era um homem como eu, como você... E pra finalizar com um nocaute, um Zé Roela passou de carro gritou alguma coisa não sei se pra ele mais sei que não deu pra entender, ele olhou para o sol e disse sorrindo:
– Ele não sabe... O sol brilha na nossa frente, temos que agradecer a Deus.
Aquela violência toda que se criou na minha mente se transformou em vergonha, a maior vergonha que já senti, eu era a “coisa”, mal conseguia olhar para as pessoas, mesmo ninguém sabendo o que acontecia nesse mundo dentro de mim, eu estava envergonhado.
Foi uma lição simples que aprendi... Às vezes a vida parece um filme, uma poesia. Logo em seguida o meu ônibus apontou, entrei e fui trabalhar. Agora viajando ouvindo Teatro Mágico, lembrei-me novamente do que aconteceu e resolvi escrever.
Essa historia aconteceu exatamente como está aqui... E continua acontecendo, em algum lugar.
by Lucas

Um comentário:

Anônimo disse...

Histórias que retratam a realidade, talves não mereçam cometários, e sim atitudes!