sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Verão

A maneira como ela ainda mantinha as lacunas dos olhos abertas fez com que lágrimas brotassem ali e refrescassem a pele áspera de Sofia. De braços postos sobre a mesa, a cabeça recostada sobre as mãos frias traduziam com letras firmes o sentimento de dor que ela expunha pra fora da alma. Não tinha nem se quer um lenço de papel, simplesmente um copo vazio com o suor do líquido que o continha. A solidão combinava a salinidade das lágrimas com a madeira da mesa da cozinha. Seu desejo era expelir a dor e colocar no lugar um sorriso descartável pra mais tarde, quando quem sabe, Carlos mudasse de ideia e voltasse atrás.
Limpou a face com as costas das mão direita, suspirou fundo, ajeitou a roupa, o vestido florido que esquentava a pele, passou as mãos úmidas pelo cabelo e o prendeu com a presilha amarela, presa na barra do vestido, que incomodava o joelho.
Sofia tomou o banho mais demorado da semana, talvez do mês, colocou a melhor roupa da última compra que vez numa liquidação do shopping, derramou sobre a pele do pescoço e pulsos os restos do perfume francês que ganhara de natal de seu pai. Sentiu-se bela e sensual o suficiente para abalar as estruturas físicas e emocionais do único homem que punha pra fora a sinceridade de forma branda e cuidadosa, Carlos com certeza perdeu o juízo quando disse não mais amá-la.

Marcella Casari

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2 comentários:

Y. Gracinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Y. Gracinha disse...

Eu amo tanto quando vc escreve, vou te contar um segredo que acabei de perceber, eu tambem suspirei fundo... ♥