terça-feira, 2 de junho de 2009

Um senhor cinza

O inverno pintou o céu de cores acinzentadas. E não eram as nuvens manchadas de poluição, nem o oxigênio escasso de nossos pulmões. Foi o próprio inverno cheio de si que trouxe cores tão iguais, temperatura tão baixa, calor tão vazio, necessidade de folga.
O vento gélido varria de nossos corpos o calor, a insanidade, o desejo, e abria espaço para o cansaço, a proximidade e a união, tanto de corpos como de almas, tanto de amigos como de amores. Até as árvores tremiam com sua presença, um frio sublime e constante de queimar as pontas dos dedos, de cortar a boca, a face, a audácia.
O inverno doeu quando chegou, assim de repente, e perdura para mostrar sua falta de gentileza, sua inimizade com o sol, seu amor e carinho para conosco. Pois é ele quem mais nos une, une corpos com necessidade de calor, sendo que no verão corpos não se misturam, não se desejam tanto, a proximidade queimava, ardia, como se o próprio sol estivesse ali, e no frio, e no frio do inverno um corpo não sabe viver sem outro.
O calor humano que mais verdadeiramente aquece e acalma, cobiçando o sol que dantes negavam. O homem que reclama da presença do sol, da ausência, do calor, do frio, agora abraça outro corpo, outra pessoa, um amigo, um parente, um amor.
Olham pro mesmo céu, com outras cores, com outros olhos, com outro sorriso. E no fim sempre agradecem, pelo frio que une, pelo calor que separa, pelas flores que admiram, pelo outono, sem flores, sem frio, sem calor.

Marcella Casari

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3 comentários:

Talita Dionisio disse...

Vc retratou perfeitamente como é o Inverno das pessoas!!!
Pelo menos o meu é assim rsrsrs.
Ah eu amei seu texto , principalmente porque o tema é INVERNO e eu amo!!

Álvaro disse...

Inverno... estação de resguarda. Época de voltar-se a si mesmo e replanejar-se.

Unknown disse...

Marcellaa...capotei!

Eu amei os textos! *-*