sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Amor e Vísceras

Começou como um gelo na boca do estômago e foi subindo em forma de fogo passando pelo meu pescoço descoberto e indo até a minha boca, até a ponta da minha língua. E não, não era nenhuma arma mortal que pudesse tirar sua vida da minha. O fogo perdia intensidade ao subir, e foi devagar, devagar se transformando de brasa à palavra. Palavra e mais palavras que já não cabiam dentro do meu estômago, eu estava cheia, precisava esvaziar as entranhas pra caber mais de nós dois. Mas ai você me pergunta, mas no estômago? O seu estômago estava cheio? E cheio de que? De amor é claro. O coração, o pulmão, até os meus intestinos já estão lotados de amor. Todos os meus órgãos, meus nervos, minhas células já estão cheios e eu preciso desabar um pouco desse amor dentro do seu corpo pra ver se cabe mais, sempre mais, o suficiente pra mim.
O processo dentro do meu organismo une todos os órgãos, e nervos, e células, e pedacinhos minúsculos de ossos e músculos para obedecerem à ordem de espremer meu amor ao máximo até que ele saia de mim em forma de palavras que muitas vezes são ásperas, outras doces, mas só pra que você possa escutar os suspiros das minhas brasas sendo queimadas na ponta língua até seus ouvidos. Mas se até hoje eu contive a maioria desse amor dentro do meu corpo que culpa tenho eu de deixá-lo vazar pelas beiradas? Eu respiro e transpiro amor desde o primeiro dia da minha vida ao seu lado, mesmo que ainda tentasse me enfiar pela garganta uma certeza que eu já não tinha mais, eu sempre soube que haveria espaço em mim pro seu amor. E eu sempre estive pronta pra doar um tanto do meu e receber um tanto do seu. Só de mim meu corpo enjoa. Eu preciso do seu.


Marcella Casari


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Um comentário:

Ana Carolina Vingert disse...

Eu respiro e transpiro amor desde o primeiro dia da minha vida ao seu lado, mesmo que ainda tentasse me enfiar pela garganta uma certeza que eu já não tinha mais, eu sempre soube que haveria espaço em mim pro seu amor.

Não tenho nem palavras,
mesmo nessa época descrente
eu não posso deixar de suspirar.

lindo baby.