quarta-feira, 18 de abril de 2012

Paz

Eu estive completamente vazia por esses últimos dias. Foi irônico me manter por tanto tempo com uma ferida aberta no meio do peito, apenas esperando que o tempo cicatrizasse com cuidado. O que eu poderia dizer sobre esse fato apenas consumiria meus instantes de energia, esses que eu conquistei com suor e sangue pra fechar esse buraco com minhas próprias mãos, porque se alguém visse, ele aumentaria ainda mais. Pois seriam olhos e comentários sobre mim e em cima de mim, e com certeza uma ferida se transformaria em outras mil e tomariam conta de mim. Eu jamais me recuperaria. Eu pensei. Nem dessa. Eu jamais me recuperarei. Uma ferida dessas, cravejada no peito, estampada no corpo. Uma coisa dessas não se esconde por muito tempo. Eu não estou mais pensando nela. Nem na dor, nem no tamanho, nem no vazio. É importante reforçar que minhas mãos aprofundavam ainda mais aquele orifício inútil que eu sem querer cultivei dentro de mim, quanto mais eu tentava disfarçar maior ele se tornava. Então eu descansei minhas mãos e meus braços. Eu me sentei sobre a sombra de uma árvore, eu destranquei uma porta que estava emperrada na minha alma, eu me deitei na grama verde de algum lugar lindo, eu simplesmente me deixei levar por uma voz suave que vinha calmamente sussurrar em meu ouvido, me deixei conduzir cegamente pelo caminho que aquela voz dizia ser o certo, o bom, o perfeito e o agradável. E Ele estava certo. Meu vazio foi completamente fechado, lacrado e selado pelas doces palavras que eu escutei naquela noite. Eu pude então dormir em paz. E estar em paz.



Marcella Casari
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