quarta-feira, 18 de abril de 2012

Cold

"Ainda com os lábios secos ele cruzou os braços sobre o peito e se escondendo o máximo que pode, flexionou também as pernas rijas e pálidas esperando o inverno daquele ano passar mais rápido através de seu corpo esguio e amarelado. Com a língua úmida de sede cobriu a boca com uma saliva ácida e amarga. Numa tentativa frustrada de umedecê-los. Sem sucesso puxou as magas da camiseta desbotada a fim de cobrir os dedos enrugados e frios. As calças já estavam curtas demais e os pés descalços sentiam o gelo cortando como navalha. Nem o fogo queimaria tanto. Jorge encolheu-se o máximo que pode, mas não conseguiu despistar o vento forte, este que já fazia latejar seu sangue como num bombardeio ininterrupto de neve e fogo. Seu único encosto é a parede fria de um bordel abandonado do século XIX, ainda dá pra perceber o aroma dos charutos caros e os perfumes baratos que circulavam por ali como se tivesse sido a pouco a última noite desses boêmios. Mas nem ali poderia servir de abrigo, Jorge já mal podia mexer as mãos...".



Marcella Casari
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