sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Frio

Aquela brisa espalhava meus cabelos, bagunçava todo o arranjo que eu tinha feito pra ficar mais bonita. Eu tapava os olhos pra não entrar poeira, então você vinha com suas mãos gigantes, me proteger do frio que começava queimando e terminava quando eu já estava dentro da sua blusa de frio, dividindo o seu calor. Eu cabia exatamente encostada no seu peito, ouvindo o seu coração bater, sua respiração ofegante, o ar quente que saia da sua boca e me atravessava as orelhas, chegando a nuca me causando um arrepio, mais um arrepio naquele frio em que você me protegia. Seus dedos encostavam-se à minha boca, porque você sabe que sinto muito frio ali, eu te mordia bem de leve, e o seu ai saia fraco, o vento te arrancava a voz mais linda do mundo, e punha no lugar uma rouquidão que me deixava louca, você tava tão perto, e eu cabia exatamente com você. Você me balançava de lá pra cá, como se eu fosse uma criança mimada, precisando de carinho, e eu precisava, sim, eu precisava pôr minhas mãos nos teus bolsos, procurar ali alguma coisa, só pra poder percorrer seu corpo mais de perto, mais de perto, e você ria quando a minha mão não sabia onde estava, afastava-se e eu ria pra você, eu ria e você ria, a gente concordava com tudo aquilo e sabia que nem se nascesse o sol naquela noite, nem o sol me aqueceria mais que passar o frio dentro da sua blusa, dividindo com o seu corpo o mesmo calor que aquecia o meu. E me beijava a testa, em sinal de amor, e tinha ainda o amor, só pra enfatizar.

Marcella Casari

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