Não gosto desse gosto amargo que o meu estômago me devolve depois de um sonho entorpecedor. As minha mãos analisam toda a superfícei onde estou deitada. Meus pés descalços sentem o frio cutucá-los com as pontas dos dedos, cócegas inquietas. Levanto-me. Pego o cobertor que já está no chão, volto a envolvê-lo a mim, protegendo bem meus pés, escondendo meu corpo, minhas mãos. Volto a sentir o gosto amargo, amargo ou azedo, áspero, ácido, corroendo minha garganta desde o meu coração. Meu coração repuxando, ansiando, meu pulmão calejado. Respiro fundo, o ar vem com poeira e incomoda, meus olhos ardem, lacrimejam umas lágrimas descontroladas que molham meu travesseiro. Enxugo minha face, enrrugo o rosto colocando minha mão sobre ele. Já é hora de acordar. Ponho-me de pé, um pouco desentusiasmada e vou embora. Meus pés sabem o caminho, meus ouvidos aproveitam a música do celular e se desligam do mundo, guardo as mãos dentro do bolso, o rosto descoberto, minha boca apertada pra não se deixar calejar pelo vento. Minha mochila pesa. O frio me deixa cansada, as pernas ardem, as mãos congelam, os lábios secam. O sol alumia bem pouco a minha frente, meu caminho meio azul, colorido só do céu, e das casas, vejo "Jesus" escrito na parede e dou um sorriso, um sorriso meio vago totalmente útil. Quem sabe são meus sonhos, minha energia (...)
Marcella Casari
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