sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ana

Ela prendia e soltava o ar, como se fosse mais forte que qualquer um. Colhendo com a boca trancada um sentimentalismo que causava inveja. Vinha a tona mais um pouco de gás carbônico forçado, dolorido e manchado de saudades. Ana escondia nas mangas um suspiro atrás do outro, com cenas coloridas que ficavam na sua mente. Tinha na memória traços bem marcados de pés bem calejados, mãos machucadas e na face uma alegria tão alheia que a perfurava toda. Não contava com outros olhos observando seus atos, não concebia na cabeça uma vontade tão grande quanto a dona dos suspiros. Ela fechava e abria os olhos pra se perder um pouco mais, abrindo vaga pra quem quer que fosse o corajoso a perpetuar dentro dela. Mas ela estava fraca no sofá da sala, a televisão desligada, sem som nem nada, Ana prendia e soltava o ar como se estivesse fraca, foi aquela falta, sabe quando se faz falta e se sente em dobro, quando a saudade toma conta, invade, mais infeliz é quem a deixa dominar. E não tem coragem de negar. Ana não tinha coragem de negar.

Marcella Casari

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3 comentários:

Anônimo disse...

Ele prendia e soltava o ar, que toda vez que saia, levava até ela um pouco do seu coração!

Abraços bem Beijados!

Marcella C. disse...

Do ar dela, um pouco da saudade, um pouco do coração!

Abraços cada vez mais beijados !

Barefoot. disse...

Ela na sala desejando um secador, um limpador, um apagador... qualquer morfina alheia que faça parar de doer, para admitir que não existe sorrir sem sofrer, que não se é especial, que se é fraca e o pior de tudo... normal.
Não tenho como te agradecer por continuar a escrever aqui, Tem sido força, luz e caminho para os meus pés cansados.
Ler-te... é engraçado, me pergunto sempre o tanto que eu te conheço e parece que sempre me deparo com um ou dois diálogos nossos, do tipo: oi! oi! Tudo bem? Bom! Fica com Deus! Deus te abençoe! t+...