terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lâmpada

Luísa tinha acabado de ler a carta escrita a mão de Luis Fernandes, quando enxugou a última lágrima que poderia escorrer aquela semana. Dobrou-a cuidadosamente e colocou de volta na última gaveta do armário. Ali tinha muito mais do que papéis. O sorriso dela amargurou-se mais uma vez, flagelando o resto do corpo com as metades da sua alegria. Tinha dentro das lágrimas o sabor azedo de sentir-se tão envergonhada, como poderia estar se lamentando se nesse mesmo caminho as pedras foram postas de lado? Nenhum tropeço para machucar-lhe. Luísa, ajeitou bem o vestido, para levantar-se do chão, cambaleou, fechou os olhos e não permitiu nenhuma demonstração de sentimento, nem a alegria escondida, nem as lágrimas. Encostou-se no armário e deixou escorrer no canto da boca um sorriso, mordiscou o mesmo canto do lábio e sentiu-se plena. Não tinha nada nem ninguém que a afastasse de si mesmo mais do que Luis Fernandes, e aquele homem roubava-lhe todas as noites a luz dos seus olhos, roubava-lhe e depois devolvia, toda manchada, fraca, quase apagando. Ah, quem dera se levasse consigo apenas uma lâmpada e não a luz inteira.

Marcella Casari

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4 comentários:

erica disse...

bem que poderia rolar um poema com Erica neh? mas ess enome não soa tão poético assim ¬¬

serenico disse...

"Ah, quem dera se levasse consigo apenas uma lâmpada e não a luz inteira".

Sou suspeita p/ falar, mas, adorei.

Daniel Filho disse...

"Ali tinha muito mais do que papéis. O sorriso dela amargurou-se mais uma vez..."

Acho que todos nós amarguramos um sorriso e temos guardados coisas que sao mais que papéis, coisas que sao nossa vida!

Cada texto seu publicado, eu me impressiono mais com vce!
=D

Unknown disse...

você escreve muito bem Marcella! :)
você tem que ler aquele livro!