sábado, 12 de setembro de 2009

É uma metáfora

Eu conheço essa cidade com a palma da minha mão. Só não me peça pra andar mais rápido. Eu vou pelos caminhos mais longos. Apreciando a paisagem. Tocando fundo n’alma das minhas memórias. Não me peça pra ficar calado quando passarmos em frente à casa da minha infância. Faço questão de te revelar os meus segredos escondidos embaixo do tapete. Minhas travessuras e a coleção de cartão-postal. Não me peça pra não te mostrar a cor da roupa da minha cama, nem o travesseiro com cheiro de orquídeas, meu maior orgulho era aquele cheiro quando eu sonhava com você. Não venha me privar de te mostrar a folha rasgada em frente àquela porta, nela tinha a sua letra, naquela maldita carta de quando pensou que fosse viver sem mim. Não faz tanto tempo assim. Eu ainda lembro do gosto da fruta do jardim, da sua mão toda melada de manga, e o seu sorriso sarcástico quando acusei estar suja a sua boca. Não me peça pra pegar um atalho, quando eu sei que no caminho mais longo eu posso ouvir mais a tua voz balbuciando coisinhas que agora eu não sei nem mais o que significa. Eu to te vendo, você ta aqui, e só isso importa.

Não me peça pra falar mais baixo, nem pra largar a sua mão.
Não me peça para andar pela calçada já que no meio da rua eu desenhei nossos nomes com carvão, eu sei que não tem mais nada, mas só de imaginar a cor escura do carvão grudada nos meus dedos já vale a pena não saber exatamente onde escrevi. Você sorriu quando te contei dessa façanha, veio e me deu um beijo no rosto, tentei te fazer rir, mas você toda escrupulosa revelou-me não sentir cócegas, isso até o dia em que pus a mão no lugar certo. Não larga da minha mão, eu sei por onde guiar meus pés, mas minhas mãos dentro dos bolsos não cabem mais, deixa se encaixarem nas suas, e o suor que brotar dali a gente ignora, deixa que o meu corpo faça sombra no teu. Não venha me pedir pra não repetir aquela história, eu me lembro muito bem dos detalhes que você deixou escapar com o vento, eu tinha o seu corpo escondido no meu, meus braços adornavam suas costas e você fazia carinho na minha cabeça, como se eu fosse uma criança pedindo carinho, e eu era, eu estava ali suplicando e você tinha toda atenção pra mim.
Eu conheço essa cidade com a palma das minhas mãos, mas por você eu me perco, me esquivo das ruas principais, aventuro-me por ruas sem saída e vou pela sombra.
Só não me peça para ir por outro caminho.

Marcella Casari

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2 comentários:

Y. Gracinha disse...

"Eu conheço essa cidade com a palma das minhas mãos, mas por você eu me perco, me esquivo das ruas principais, aventuro-me por ruas sem saída e vou pela sombra."
Te amo

erica disse...

Mar, creio que nem preciso ficar escrevendo aqui o que acho dos seus textos neh?
cada dia um mais lindo, mais perfeito... cada dia a gente se encaixa mais neles!
=]

Está de parabéns!