Passadas duas horas e eu não havia formado nenhuma frase que fizesse sentido, não que as palavras emaranhadas nas folhas não me deixassem desejoso de conhecê-las mais e mais, mas eu tive receio de me pregar nelas e desviar a atenção do movimento que me rodeava. Bom. Movimento nenhum, apenas eu a revistas e todas as cadeiras vazias.
Até que meus olhos crucificaram-se numa imagem que mais tarde resumiria toda a minha vida. Uma mulher. Não. Não que eu nunca tivesse visto uma mulher daquele jeito. Mas não foi o jeito dela. Foi o meu. Eu tinha nove anos, poxa. Eu estava em uma biblioteca, cheia de livros, revistas, palavras, informações, detalhes, corpos esculpidos com perfeição. Calma. Eu disse corpos esculpidos com perfeição? Sim. E ali eu vi até a sombra que o corpo dela despejava sobre o chão do estúdio fotográfico, apenas ela, algumas luzes, o fotógrafo e atenção. Muita atenção. Ela era perfeita, até aquele momento ela era a única coisa perfeita daquela biblioteca. Não resisti e a levei comigo, rasguei aquela página da revista, dobrei com cuidado, coloquei no bolso da calça e sai correndo. E eu gostei de tê-la posto no bolso da calça (...)
Marcella Casari
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